domingo, 21 de junho de 2009
16 anos do "93"
Mês que vem, o "Rita Lee" ("Todas as Mulheres do Mundo" ou apenas "93", como chamam os fãs) completa 16 anos. Parece que foi ontem que amanheci na loja de disco no dia do lançamento (sim, ainda existiam os discões, saí de lá com a versão vinil, CD e K7) para carregar, na maior emoção e expectativa, aquele discão do caR#####! Rita estava desde 1990 sem gravar um disco de inéditas e vinha de uma turnê de sucesso, Bossa'n Roll (que também virou um belíssimo registro ao vivo em CD/ K7/ vinil).
Era tanto falatório em cima desse disco... e na época não existia esse monte de informações da internet. Ou seja, a gente não tinha idéia do que ia encontrar. Quando coloquei na vitrola o discão, os acordes roqueiros de "Filho Meu" já me ganharam. Estava tudo lá: as letras fodon@s, os temas femininos, o humor ferino, o talento de melhor compositora de todos os tempos, a big mamma do rock e, na minha modesta opinião, a voz mais marcante do mundo, a maior cantora planetária.
A segunda versão de "Ambição" me emocionou. "Menopower" e "Todas as mulheres" me fizeram sorrir, pensar e ter vontade de dançar. "Benzadeusa", Rita e Roberto das mais infalíveis. "Mon Amour", tocante. "Maria Ninguém", homenagem à grande Bardot, com requintes bossa'n Beatles de "Do you want to know a secret". "Drag Queen", "Canaglia","Só vejo azul", delícias sonoras. "Deprê", uma porrada. "Tataratlante" foi a primeira 'preferida'. Depois, o disco inteiro passou a ser de 'preferidas'. Não tem uma música sequer que eu pulasse ou desse um skip no CD. Instant classic a partir do momento em que tocou na minha vitrola. E tocou a minha vida.
Obrigado, Rita!
Guilherme
Para homenagear essa obra fodon@, vamos fazer alguns posts só com material da época.
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Revista Veja - Julho de 1993
Lance de mestre
Rita Lee volta ao rock e lança um grande CD
O novo CD de Rita Lee tinha boas chances de passar despercebido na rotina de lançamentos das gravadoras. O rock nacional saiu de moda sem deixar mais do que três ou quatro verbetes na história da MPB, a própria Rita parecia não saber para onde ir em seus discos recentes e, nos últimos três anos, passou a requentar a própria obra em ritmo de bossa nova. Seu show Bossa'n Roll e o CD homónimo foram grandes sucessos, mas deixaram no ar a pergunta: o que poderá fazer depois disso? A saída encontrada por Rita Lee foi ao mesmo tempo a mais óbvia e a mais arriscada — voltar ao velho rock. Poderia ter dado com os burros n'água. Acabou gravando um dos melhores discos de sua carreira.
No CD, balizado com seu nome, que já está nas lojas, Rita exibe um vigor como intérprete e uma inventividade como letrista como há tempos não se viam. Está irreconhecível. Ou melhor, volta-se a reconhecer nela a compositora esfuziante, irónica, cáustica e desbocada dos bons tempos em que, segundo sua própria definição, roqueiro brasileiro tinha cara de bandido. Não se trata, porém, de uma simples retomada estética do passado. Não teria sentido Rita arvorar-se a ideóloga da rebeldia juvenil na era do Sepultura e do Metallica. O que ela faz é resgatar essa postura para o seu mundo de hoje, o mundo de uma artista de 45 anos. Rita voltou a ser rebelde, mas mudou de assunto.
O resultado dessa virada está, por exemplo, em Todas as Mulheres do Mundo, em que a letra enfoca com ironia tipos femininos de hoje — como as "Irmãs La Dulce beaidetifícadas" e as "Xuxas em crise" — para concluir: Toda mulher quer ser amada Toda mulher quer ser feliz Toda mulher se faz de coitada Toda mulher é meio Leila Diniz.
Está também na escancarada Menopower, em que cutuca um assunto que muitas mulheres têm dificuldade em abordar, a menopausa. Está ainda em Drag Queen, que passa a limpo com carinhoso deboche o mundo dos travestis. Não é coincidência que essas três faixas pincem temas no universo feminino e há outras mais que seguem essa inspiração, como Benzadeusa, Mon Amour e a regravação de Maria Ninguém, de Carlinhos Lyra.
Rita Lee é um disco autoral, que não poderia ser gravado por um cantor ou por uma banda. É um disco permeado da visão feminina do mundo. "Foi por acaso que esses temas foram surgindo", sustenta a compositora.
LIÇÃO DIFÍCIL
Também sob o ponto de vista estritamente musical Rita busca as lições certas no próprio passado. As composições mais leves, de sabor pop, recheadas de teclados e baterias eletrônicas, deram lugar ao rock básico e rascante que ela cultivava há dez anos, em sua carreira solo e nos anos dourados do início da parceria com o marido, Roberto de Carvalho. Pode-se argumentar que é um rock sem novidades, e é mesmo, mas executado por alguém com experiência suficiente para fugir do banal e reinventar o que já é conhecido. Eis aí a lição mais difícil a ser aprendida pelos bons músicos. No panorama internacional, os Rolling Stones há décadas fazem boa arte com os mesmos acordes. Com seu novo disco, Rita, na MPB, deu o seu pulo-do-gato.
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IMPECÁVEL!
ResponderExcluirpuqp. nem vou falar nada depois desse txt lindo do guilherme. mas assino tudo o que ele disse
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