ARQUIVOS, IMAGENS, TEXTOS E REPORTAGENS SOBRE RITA LEE, A BIG MAMMA DO ROCK

domingo, 31 de maio de 2009

Propaganda de 1980

Saia na época do Bossa


Rita de saia na época do Bossa'n Roll. A foto foi tirada no Palace.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela - última parte


Loucura em grupo!

Depois de seu trabalho como manequim e estrela do show Build Up, em 1970, Rita ganhou certa popularidade independente dos Mutantes. Frequentemente era chamada para atuar em publicidade, em júri de festivais e apresentações de espetáculos. Arnaldo e Sérgio, por outro lado, e mais os músicos acompanhantes, Dinho e Liminha, estavam cada vez mais envolvidos pelo som progressivo do Yes, Emerson, Lake & Palmer e outros grupos ingleses, enquanto Rita continuava fiel ao rock - deboche dos Mutantes dos bons tempos. Havia insatisfação no ar. Cobras e lagartos, e Rita de despede dos Mutantes "levando meus discos dos Beatles e dos Stones, escova de dente, minhas duas cachorras, meu mini-moog, violão, enfim tudo o que coube dentro do meu jipe Willys 51, companheiro velho de guerra".
Rita ainda passou dois meses na casa dos pais, colocando a cabeça em ordem, e depois resolveu alugar uma minimansão na beira da represa de Guarapiranga, perto de São Paulo. Nesse período ela compôs muitas músicas, entre elas Mamãe Natureza, Menino Bonito e Esse Tal de Roque Enrow. Sua maior companheira, na época, era Lúcia Turnbull, ótima cantora e guitarrista. Aos poucos foi pintando uma transa musical incrível entre as duas, e elas resolveram formar um dueto acústico: As Cilibrinas. E lá foram elas tocar na Phono 73, um show musical organizado pela gravadora Phonogram. Os Mutantes, por outro lado, haviam se reorganizado sem Rita, em outros moldes musicais, e eram a grande atração do show. Na grande noite, o público estava inquieto e, quando As Cilibrinas entraram no palco com toda a sua delicadeza acústica, a vaia foi geral. "Lugar de mulher é na cozinha", "Rock é coisa pra macho", gritavam os mais exaltados. Mas Lúcia e Rita não se abateram e deram muitas gargalhadas depois.

As Cilibrinas estreiam com vaias. Surge o Tutti-Frutti

Passado o fiasco, Rita e Lúcia decidiram dar um trato no som, adicionando bateria, baixo e guitarra base. Lúcia ficaria na guitarra solo e Rita nos teclados. Só faltavam os músicos e elas se lembraram de um garoto que era vizinho dos irmãos Baptista na Pompéia, e que tinha um grupo chamado Lisergia. No dia seguinte, Luis Sérgio Carlini foi visitar as Cilibrinas na garagem onde elas ensaiavam, e levou os amigos Lee Marcucci e Emilson. Era o fim das Cilibrinas e do Lisergia. Nascia o Tutti-Frutti, que acompanhou Rita de 1973 a 1978, com várias formações (Lúcia sairia poucos meses depois).
Em 1976, o Tutti-Frutti ganhava um novo músico muito especial: Roberto de Carvalho, também o amor de Rita e pai do baby que foi logo encomendado, Beto. As bruxas andaram soltas e muita gente tentou assustar Rita dizendo que ter um filho iria arruinar sua carreira. O que uma coisa tem a ver com a outra, até hoje ninguém explicou...
Em 1977, Rita e o Tutti-Frutti resolveram juntar forças com Gilberto Gil, no show Refestança, que percorreu o Brasil inteiro. No final do ano seguinte, uma série de desentendimentos entre os membros do Tutti-Frutti acabaram determinando o fim do grupo. Para acompanhá-la no show daquele ano, Rita criou os Cães & Gatos, um grupo de oito músicos liderados pela guitarra e pelos teclados de Roberto. Os Cães & Gatos eram uma pândega: todos muito amigos e se divertindo a valer com a loucura de um grupo de rock na estrada!

No ano passado, com o sucesso de Mania de Você e das outras músicas do LP que levava o seu nome, Rita virou mania nacional. E por enquanto, depois de tantas confusões, ela não quer saber de grupo fixo. A superestrela já brilha sozinha...

Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela - parte 3

Era uma vez uma mulher camponesa, guerrilheira, manequim. Ai de mim!


Com a dissolução do O'Seis, último grupo amador de Rita Lee, após a frustração do compacto nunca lançado, ela e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista se viram na situação de sobreviventes do dilúvio. Agora, era seguir o caminho a três, já que abandonar a música era a última das opções na cabeça da mocinha Rita Lee. Meio na gozação, o novo trio foi balizado de O Konjunto, e assim eles partiram para tocar em festas e até mesmo em shows na lendária cervejaria paulista Urso Branco, juntamente com o então anônimo Jorge Mautner.

Guitarras na MPB. E explode a Tropicália

Como os três jovens músicos ainda estudavam, os ensaios eram feitos nos fins de semana, na casa de Arnaldo e Sérgio, na rua Venâncio Aires, bairro da Pompéia. Lá, no fundo do quintal, o terceiro irmão Baptista, o gênio da eletrônica Cláudio César, mantinha um estúdio louquíssimo onde fabricava instrumentos musicais e equipamentos do género. E assim prosseguia a esforçada carreira d'O Konjunto: apresentação no programa "Astros do Disco" da TV Record (cantando Shame and Scandal in the Family), nos programas "Parada de Sucessos" (acompanhando Tim Maia) e "Quadrado e Redondo", da TV Bandeirantes e no "Show em Simonal", da TV Record (cantando 500 Miles). Um belo dia, surge no cenário artístico Ronnie Von fazendo a linha príncipe encantado, tentando destronar o "Rei Roberto Carlos" e com seu próprio programa de televisão. Rita comenta o lance: "Como nossa experiência com Roberto Carlos (no tempo do O'Seis) não tinha sido lá essas coisas, os bobos da corte passaram pro lado do príncipe, que fazia uma imagem de mais inteligente e bem informado, aparecendo de cara com a versão Meu Bem, dos Beatles. O programa do Ronnie Von dava condições da gente bolar as próprias apresentações. Só faltava um nome para o grupo, pois O Konjunto não dava pé, né? Na época o Ronnie estava lendo um livro chamado O Planeta dos Os Mutantes. Papo vai papo vem, pintou o nome: Os Mutantes."
Corria o ano de 1967 e o movimento Tropicalista começava a revolucionar a MPB. Um dia, nos bastidores do programa de Ronnie Von, os Mutantes foram convidados para fazer vocais no disco de Nana Caimmy.

Com instrumentos feitos em casa, nascem os Mutantes

Rita relembra como foi: — Entramos no estúdio com nossos instrumentos feitos em casa e demos de cara com um crioulo gorducho, de barba, que falava muito alto, chamado Gilberto Gil. A gente o tinha visto no programa "Fino da Bossa", mas não podíamos imaginar que o crioulo era um tremendo roqueiro. Ele puxou o violão e começou a desafiar a gente, numas de "entra nessa cabeludo!". Começamos a cantar Domingo no Parque, o som foi comendo e, no final, ele disse assim: "Como é, moçada, vamos transar juntos nesse próximo festival da Record?". Não foi preciso um segundo convite...
A apresentação de Gil com os Mutantes, no III Festival da Record foi um escândalo! Eles foram os primeiros a usar guitarra elétrica na MPB, e muita gente nunca os perdoou por isso. De qualquer modo, Domingo no Parque tirou segundo lugar e, a partir daí os Mutantes iniciaram uma carreira divertida e de muito sucesso. Participaram de muitos outros festivais, gravaram cinco LPs (Mutantes I, Mutantes H, A Divina Comédia, Jardim Elé-létrico e No País dos Baurets), tocaram em Lisboa, no famosó Olympia de Paris (dividindo o programa com Gilberto Becaud) e no festival Midem, arrombaram a festa muitas vezes e foram muito, muito importantes para a música jovem brasileira. No começo de toda a loucura, Rita ainda estudava Comunicação na USP (na mesma classe de Regina Duarte), mas logo a música e as obrigações de estrela em ascensão falaram mais alto.
Os Mutantes sempre brigavam entre si (como bons irmãos de cabeça) e, nas inevitáveis separações temporárias que pintavam, Rita tratava de cuidar da própria carreira. Foi nessas que ela topou trabalhar como manequim e artista da firma Rhodia durante um ano, participando de duas feiras industriais que ainda se realizam em São Paulo: a UD e a Fenit. Na primeira, ela participava do show que tentava lançar a moda caipira brasileira, chamada Nhô Look. Na segunda, ela era a estrela do show Build Up, no papel da mocinha pobre que sonhava um dia ser estrela.

Nessa fase, Rita lançou seu primeiro LP solo, Build Up, que, além da música tema do show, Sucesso Aqui Vou Eu, continha seu primeiro bít: José. Pouco depois, Rita lançava seu segundo disco solo: Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida.
Faltava pouco para nossa estrelinha encontrar a própria estrada, e assumir corajosamente a barra de segui-la.

Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela - parte 2

Era uma vez uma mocinha que gostava muito de música
O O'Seis (acima) foi o último grupo formado por Rita antes dos Mutantes, já com Sérgio (à esquerda na foto) e Arnaldo (atrás de Rita). O Tulio's Trio nasceu da dissolução das Teenage Singers, seu grupo de escola.


Hora do recreio no Lyceu Pasteur, imponente e tradicional colégio paulistano, de orientação francesa. Hordas de garotas adolescentes invadem o pátio, e logo vários grupinhos se formam. Um deles se destaca por ser o mais barulhento de todos. Nele, além das vozes das garotas, ecoa a mil por hora a voz de Elvis Presley, saída de uma vitrolinha portátil. No centro da confusão, a mocinha Rita Lee e suas amigas vibram com o novo sucesso do rei do rock, e sonham em formar um grupo musical.
Poucos meses e muitos sonhos depois, surge a grande chance: a rádio Record anuncia um con¬curso de conjuntos para o sábado seguinte, em meio a uma festa animada pelos Jet Blacks e por Prini Lorez.
Durante aquela semana, Rita e três colegas suas — Jean, Beatrice e Suely — ensaiaram feito loucas. No grande dia, elas entraram no palco da rádio para cantar To Love Tomorrow, um sucesso das Shirelles. Nascia o primeiro grupo formado por Rita Lee: as Teenage Singers, que fizeram brilhante carreira cantando nas festas da escola.
Para Rita, a música começava a representar uma opção real em sua vida, e ela resolveu dar o primeiro susto na família. Em vez do baile de formatura de ginásio, tão sonhado pelas meninas da época, Rita pediu ao pai uma bateria Caramuru, seu primeiro instrumento. O pai concordou em gastar os 29 cruzeiros que custava a bateria, na esperança de que tudo aquilo fosse uma empolgação passageira. Nessa época, ele nem desconfiava que, à noite, Rita pulava a janela da casa e ia tocar nos bailes dos colégios.
Um dia. durante uma apresentação no colégio Arquidioce¬sano, Rita começou a se contorcer de dor. Era apendicite aguda! Seus pais, é claro, foram avisados e, depois de muita bronca, entenderam que a paixão de Rita pela música era pra valer, e que dificilmente ela seguiria a carreira de médica veterinária que Dr. Charles sugeria.
As Teenage Singers finalmente se separaram, restando apenas Rita e Suely. Elas formaram um novo grupo com um rapaz franzino chamado Tulio, que tocava piano e cantava muito bem, no estilo Ray Charles. Nascia o Tulio's Trio, que se apresentava nas jam-sessions promovidas no auditório da Folha, e que teria um final trágico, com a morte de Tulio num acidente de carro.

Mas logo Rita formava um novo grupo com uma amiga chamada Rosa no piano, Eliane na sua bateria Caramuru e ela própria dedilhando um contrabaixo emprestado de um garoto dentuço chamado Arnaldo Baptista. Esse grupo nem chegou a ser batizado porque, em sua primeira apresentação, as meninas conhe-ceram a patota do dono do contrabaixo, que tinha uma banda chamada Os Caras de Pau. Como eles eram bons no instrumental e ruins nos vocais, Rita propôs que as meninas e os meninos se juntassem num mesmo grupo. Foi um sucesso! Só que nos primeiros ensaios muita gente caiu fora. Rita ficou sendo a única menina, fazendo vocais para os meninos: Arnaldo, Rafael, Pastura, Moggy e Sérgio, irmão mais jovem de Arnaldo. Nascia o O'Seis, que chegou a participar de um dos primeiros programas da Jovem Guarda, e a gravar um compacto com a música O Suicida. Mas o disquinho nunca saiu, o grupo se dissolveu em desgosto e ficou apenas o seu núcleo: Rita, Arnaldo e Sérgio. Estava lançada a semente dos Mutantes.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela - parte 1

A partir de hoje, vamos publicar a biografia que vinha na revista "Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela", de 1980.

Era uma vez uma menininha... decidida, teimosa, levada toda vida
“Mamãnhêêêêê! Vem pegar o menino baiano que ele já está enchendo o saco!” Era o que bastava para iniciar a confusão. Quando Virgínia, a irmã do meio, chamava a caçula Rita pe¬lo apelido masculino, ela ficava vermelha de ódio. E a vingança não tardava: Ritinha logo pegava o brinquedo favorito da irmã im-plicante e estraçalhava em mil pedaços. Choro geral, é claro... Apaziguados os ânimos, Rita decidia brincar com a irmã mais velha, Mary Lee, a "privilegiada" que tinha um quarto só para ela. Mas Mary Lee, anos mais velha que Rita, tinha naturalmente outros interesses, e frequentemente estava na sala de visitas recebendo um namoradinho fortuito. Era a grande chance de Rita. Sem o menor constrangimento, ela se plantava ao lado do sofá e exigia o preço de seu silêncio: um saco de balas, dinheiro para comprá-las, um brochinho há muito cobiçado, etc. Era chantagem braba: Rita não arredava o pé enquanto não conseguisse o suborno desejado. E assim corria a vidinha doméstica no lar doce lar da família Jones.

Orelhuda e desastrada: uma ovelhinha negra!

Desde pequena, Rita tinha uma certa vocação para ovelha negra. Quando Dona Romilda saia com as filhas à rua, as pessoas com quem encontrava diziam para Virgínia: "Que gracinha de menina!". Ai passavam a mão na cabeça de Rita e diziam: "Que orelhudinha...". Mas Rita não tinha inveja da beleza de Virginia, pelo contrário. Ela afirmava, cheia de orgulho, que quando a irmã crescesse seria a Branca de Neve. Havia, no entanto, uma disputa: ambas sonhavam em conquistar o amor de Peter Pan. Virginia sempre achava que ganharia a parada, por causa dos "modos masculinos de Rita". E recomeçava a guerra do menino baiano...

Travessa e louca por uma aventura, Rita certamente deve ter batido um recorde que merecia figurar no famoso livro Guiness: o de fraturas. Ela quebrou os dois joelhos, os dois dedões dos pés, o dedo indicador da mão direita, o polegar da mão esquer¬da, arrancou a rótula esquerda num tombo de bicicleta, quebrou dentes, o braço esquerdo, destroncou os quadris, fechou incontáveis janelas em cima das unhas e, certa vez, fraturou os dois pés ao mesmo tempo: "Como não havia jeito de me consertarem em menos de dois meses, tratei logo de imaginar que tinha voltado da guerra e perdido os dois pés; então eu curtia aquele sofrimento todo como se fosse um filme, prá variar..."

Através do piano da mãe, a primeira semente de som

Às vezes, ao inventar suas travessuras, Rita esbarrava na rígida educação de seu pai, o Dr. Charles Jones, dentista conhecido e simpatizante da causa confederada da Guerra Civil americana, da qual guarda trofeus de família. O Dr. Jones não deixava as filhas saírem de casa para brincar na rua. Então, a diversão favorita de Ritinha era fazer barraquinha no quintal e brincar de índio: ela roubava um lençol de sua mãe, pendurava no varal e ficava embaixo, fumando talo de samambaia!
Em matéria de música, as pri¬meiras informações que Rita recebeu foram através do piano de sua mãe, Dona Romilda, que gostava de executar polcas e clássicos ligeiros para fascínio da filha caçula. Pouco mais tarde, Virginia ganhou uma vitrola, e aí a sensibilidade musical de Rita foi invadida pelos superstars da época: Connie Francis, Neil Sedaka, Paul Anka, Tito Madi, João Gilberto e Dolores Duran. Mesmo sem poder mexer na vitrola, Rita ficava ouvindo os discos de longe. Era a semente de um talento que iria explodir anos depois, quando Elvis Presley fez a cabeça da mocinha Rita Lee.

Rita e Roberto



Rita Lee em "As Amorosas"


Rita Lee, em 1968, quando fazia parte dos Mutantes, em uma participação ao lado dos irmãos Baptista em "As Amorosas", filme de Walter Hugo Khouri. O diretor ficou tão fascinado com a beleza de Rita que até criou uma cena que estava fora do roteiro: um flerte entre ela e Paulo José, o protagonista do longa ao lado de Lilian Lemmertz.

terça-feira, 26 de maio de 2009

70's

Revista Nova - 1977 - Rita Lee Sexy, Debochada, Corajosa

Como será Rita Lee quando os refletores se apagam, ela desce do palco, tira a maquilagem, deixa de lado suas roupas cheias de brilho e vai para casa?

Ela está com a mais corriqueira calça jeans deste mundo, combinada (ou descombinada?) com uma bata roxa. Acreditem: chinelinhos com uns enfeites felpudos, como aqueles das nossas avós, estão nos seus pés. Nem sombra de riscos pretos em torno dos olhos, nem sombra de camadas e camadas de batom nos lábios. Funga feito um gatinho cansado, franzindo bem o nariz, quando percebe que esse tipo de graça faz seu filho de 1 ano muito feliz. Um único e mínimo sinal de que tenho à minha frente a figura da rainha do rock deste país - aquela mulher que compôs uma das mais conhecidas músicas do momento, a divertida Perigosa, onde afirma: "Sei que eu sou bonita e gostosa" - está nas meias que ela usa, umas meias amarelas engraçadas, estampadas, "muito loucas", detalhe que a gente espera encontrar, ou acha que combina à perfeição com Rita Lee.
Ela é alta, muito magra, tem a pele branca e olhos bem azuis. Os dentes são um pouco irregulares, e seus cabelos têm exatamente aquela densa cor de fogo que a televisão nos revela. Mas todo o resto que a televisão e seus shows ao vivo costumam mostrar - uma Rita Lee ousada, agressiva, extravagante, irreverente, debochada e sexy - não está ali, sobre o tapete macio, rolando em torno de Beto, o filho, fazendo caretas. Seus 30 anos, que parecem bem menos, não conseguem tirar dela o ar de garota travessa. Fico pensando se é possível, pelo menos, dizer que ela é, como em sua música, "bonita e gostosa". Bem, bonita, naquele conceito clássico de beleza, que exige traços bem delineados, olhos de cor rara, boca que pareça ter sido traçada a cinzel, Rita Lee não é. "Gostosa", depende do que se considere como tal - para quem achar que essa definição se encaixa perfeitamente em Fafá de Belém, e seus tantos atributos, por exemplo, também não é coisa que se diga de Rita Lee.
Mas não se pode negar: nada melhor do que descrever Rita afirmando que ela é bonita e gostosa. Ela é isso de um jeito novo, pelo seu à vontade, pela alegria que cria à sua volta, pela festa que inventa, como ela diz. Sendo mais claro: ela gosta dela mesma, ela se sente bonita e gostosa e não deixa de nos contagiar por completo.
Seus cabelos estão presos por grampos, mas a cada minuto ela os solta e torna a prender. e meio elétrica, gesticula sem parar, anda pelo apartamento. E engraçada. Me pediu um cigarro, logo no começo da nossa conversa - o seu, sempre Hollywood, havia acabado. Mais tarde pediria outro, mas então preferiu fazer a sua cenazinha: pôs as mãos para trás, os pés um pouco para dentro, como uma menina envergonhada, sacudiu os ombros e torceu um pouco a cabeça de lado: "Você poderia me dar mais um cigarro?" Diz que faz isso não para provocar riso, o que fatalmente acaba por conseguir, mas por timidez. "Fica mais fácil eu fingir que sou tímida, sendo mesmo tímida, do que ficar tentando bancar a impetuosa, a valente."
Essas impressões todas vão surgindo do enquanto vamos tentando começar uma conversa mais consistente. Ela mesma diz: "Você já notou que eu não consigo falar da mesma coisa por muito tempo, que eu mudo de papo a toda hora?" Claro, quem não notaria? Assim como logo perco as esperanças de ouvir respostas diretas. Tudo sempre começa com vago "não sei", "acho que não". Mas ela supera os seus pequenos silêncios, e começa a falar. Admiração, por exemplo, ela tem pelos Beatles, claro. Quando o conjunto se desfez, ela adotou os Rolling Stones, paixão que dura até hoje. Os Stones, aliás, estão em dois posters gigantes nas paredes da sala de seu apartamento. Mas tem mais na sua lista de preferências: Dolores Duran. Para Rita, Dolores foi uma pessoa incrível: "Ela sempre me impressionou porque era uma mulher que compunha e cantava". Um certo sabor de feminismo, nas suas palavras? Sim, pode ser. Certa vez, Rita já declarou que acha os movimentos feministas "uma grande confusão, uma espécie de clube da Luluzinha, onde homem não entra, muito pretensioso". Mas acredita na emancipação feminina pelo trabalho.
E depois tem essa história de querer transformar o mundo. Sim, isso é necessário, é preciso romper essa espécie de seriedade oficial que parece aprisionar as pessoas. Mas que ninguém espere ver Rita Lee, um dia, no meio da rua, numa passeata seja lá por que for. "Não acho que isso mude alguma coisa. Acredito que ajudo muito mais às pessoas com o meu trabalho." Ela já cansou de ouvir, também, que deveria se aproximar mais dos "medalhões" da música popular brasileira, juntar o seu jeito debochado de ver o mundo com as visões desse pessoal e ver no que dá. Ah!, ela não fará isso. Por quê? Ela pensa um momento, põe a mão no peito, ri e diz: "Porque, afinal de contas, eu sou uma garota, ora!" Mas ela sabe que. apesar de dar essa impressão, não é mais uma garota. E, embora ainda não tenha se acostumado com seus 30 anos, lembra-se de coisas que a fizeram amadurecer. Sua prisão, por exemplo. Foi em 1976. Rita estava separada de seu primeiro marido, Arnaldo, um dos integrantes do conjunto musical Os Mutantes, com o qual ela começou sua carreira artística, doze anos atrás, e morava com a empresária com quem trabalhava na ocasião. Rita estava começando um caso de amor com um outro músico, Roberto, seu atual marido. Estava começando também uma gravidez. A vida andava animada. A casa onde Rita morava, em São Paulo, também. Era um lugar aberto, no sentido literal da palavra. Portas abertas para todos, a qualquer hora. Ninguém sabe de onde partiu a denúncia, sequer se houve denúncia, ou, enfim, o que aconteceu ao certo. O que Rita lembra com precisão é que um dia alguns policiais entraram porta adentro em busca de maconha, pó, ácido, drogas. O que houvesse. E encontraram uns restos de cigarro de maconha num cinzeiro. No dia seguinte, os jornais contavam a história da prisão: as fotos mostravam Rita, meio abatida, o corpo já revelando o começo da gravidez. Será solta, não teve culpa, não fumou, é uma vítima, mas será que é, e grávida desse jeito - eram as várias considerações que o noticiário ia alinhavando diariamente. Na verdade, Rita Lee ficaria presa durante trinta dias. Numa cela comum. com mais sete pessoas, num espaço onde se arrumariam apenas quatro. "Foi um tempo complicado. mas me ajudou muito. Tudo aquilo era uma coisa tão distante de mim, nunca pensei que passaria perto de uma prisão, e de repente lá estava eu. E eu pude ver quem são as pessoas que estão lá, todas tão parecidas com a gente". ela comenta.
Afinal, veio uma espécie de liberdade vigiada, pôde ir para casa, mas tinha que cumprir horários, obedecer como que um toque de recolher: nada de andar por aí à noite. Exceções eram abertas aos seus shows, inevitavelmente realizados em horas "proibidas" pelo regulamento que tinha.
Aí ela começou a viver a sua segunda fase de ser gente grande: esperar o filho nascer. Mas não se pense numa Rita Lee sisuda, aguardando quietamente em casa o fim da gravidez: lembro-me de uma apresentação dela na TV, nessa época, em que ela alisava ostensiva e marotamente a barriga. enquanto tentava um rebolado dos velhos tempos em que seu corpo era esguio. E então nasceu Roberto que, com o pai. hoje forma a dupla dos "dois Robertos. únicos amores da minha vida". Beto, o bebê, dá lições diárias à Rita. Ela volta à infância, pensa novamente em valores como a importância da harmonia familiar. Beto se diverte ao seu lado. Quando Rita não está em casa, ou quando viaja, ele fica aos cuidados de uma babá e da própria família de Rita - seus pais moram a poucos quarteirões de seu apartamento, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Mas quando Rita está por perto. Beto se atira em sua direção, ofega, quer folia.

Os pais de Rita acham que ela é comportada demais!

E folia é a especialidade de Rita Lee. A qualquer hora, em qualquer circunstância. Pode ser que você já a tenha encontrado na rua e nem sequer tenha imaginado que era ela que caminhava ao seu lado. Porque, afinal, como suspeitar que aquela velhinha, toda arrumada à antiga, fosse Rita Lee? E como, meu Deus, Rita Lee pode ser uma velhinha? Porque esse é um dos muitos tipos que ela cria, e gosta tanto, e se diverte tanto. que sai por aí caracterizada. Há também a "Gina", uma solteirona muito exibida e assanhada, segundo a descrição que Rita faz dela. "Gina corre para o telefone cada vez que inventa uma música nova, só para avisar o Gilberto Gil", conta Rita. Confesso que fiquei curioso para conhecer Gina.
Quando Roberto, o marido, aparece na sala, já passa do meio-dia - ele acabou de acordar. Rita falava justamente do romance dos dois. No começo, um não ligava para o outro. Rita havia gostado do arranjo que Roberto, então guitarrista do conjunto de Ney Matogrosso, tinha feito para a música Bandido Corazón, que Rita compôs. "Mas, mesmo assim, cada um fazia pose para o seu lado", ela lembra. A aproximação foi acontecendo devagarinho até que a dupla se formou, profissional e afetivamente. Roberto não é só o marido de Rita, é também seu empresário, o guitarrista de seu conjunto, parceiro de algumas músicas. Com 25 anos, uma carreira artística que a família queria que fosse feita na música clássica, ele é o oposto da mulher. Calmo, um jeito de falar muito sossegado. Beija Rita no rosto quando aparece e adverte, brincalhão: "Não fica inventando aí, não". Rita logo avisa que tem novidade para ele, as revistas da semana inundadas com reportagens do carnaval carioca, mulheres seminuas, de braços abertos para a câmera, gente famosa que veio ver a festa toda. Rita já havia confessado que gosta de ir ao Rio de Janeiro ''curtir o beautiful people", ou seja, as pessoas da moda, os "badaláveis" ou "badalados". E foi o que fizeram, ela e Roberto, no último carnaval. Transformam-se em dois adolescentes quando contam suas peripécias. Procuraram falar com Rod Stewart, um dos iniciadores do movimento de música pop - "um snob, um chato, de origem humilde, mas que acabou se convencendo com o próprio sucesso". Viram Peter Frampton, também ídolo do mundo pop - "um boboca, andava pra lá e pra cá, meio corcunda, procurando não sei o quê" (Roberto imita Frampton). E o Elton John, então! "Coitado", diz Rita, "não sabia o que fazer quando aquelas mulheres deslumbradas se atiravam nos braços dele, gritando Elton! Elton!" (a vez de Rita imitar Elton John). E emenda: "Tudo, tudo mentira, tudo só pra fotógrafo fotografar e pôr na revista, tudo falso, uma alegria fingida".
Muito diferente dela que, quando sobe num palco, faz caretas, borra o rosto em mil cores, se contorce, está sendo muito sincera. Está fazendo o que sente, sem preparação, sem esquemas. Não é alegre para os outros, é alegre para ela mesma. E sabe por que faz sucesso: "Eu tenho talento", ela diz seriamente. "Eu tenho talento, posso demorar, mas chego lá." Ou melhor, já chegou lá: seus discos nunca vendem menos de 200.000 cópias, sua agenda de shows é abarrotada. E vai ganhando admiradores: crianças, para quem ela é divertida, engraçada, alegre; mulheres, para quem é uma pessoa corajosa, capaz de atitudes firmes, inesperadas, capaz ainda de assumir essas atitudes; homens, que a vêem como um novo mito de mulher.
Rita quer todos esses admiradores. "Me preocupo em atingir a todos, por isso componho músicas para outros cantores, quero chegar perto das pessoas, seja como for." Aliás, ela se prepara para que esse contato seja bem mais próximo, brevemente: com um novo show, Babilônia, ela vai percorrer o Brasil. E o que é Babilônia? e como se fosse um retrato, a seu modo, da cidade de São Paulo, onde nasceu, cresceu e está criando o filho. E onde ela vive uma espécie de teima, a de conseguir manter o bom humor e a cabeça fresca, apesar da cidade "séria e cinzenta".
Mas que fique claro não ter ela qualquer queixa de São Paulo. Aqui estão seus caminhos. "Só aqui, nesta terra de imigrantes, é que pode surgir uma nova raça. É aqui que as loucuras chegam primeiro, como o requebro dos quadris de Elvis Presley e o iê-iê-iê dos Beatles." Foi em São Paulo, também, que Rita Lee deu seus primeiros passos como artista. Filha de um dentista, descendente de índios norte-americanos, com duas irmãs mais velhas do que ela, Rita Lee teria, pela vontade do pai, carreira muito pacata: seria veterinária. "Já que ela gosta tanto de bichos, por que não?", pergunta-me Carlos Fenley Jones, o Charles, segundo o apelido familiar, pai de Rita. "Ou então, ela poderia ser dentista, uma dentista cientista. Enfim, poderia ter uma profissão que desse a ela o direito a aposentadoria por tempo de serviço, por velhice, e não dependesse dos caprichos do gosto do público. Afinal, a qualquer momento ela pode deixar de fazer sucesso, e aí terá que forçosamente se aposentar."
Mas Charles não é pessoa capaz de obrigar alguém a fazer o que não gosta, nem dona Romilda, mãe de Rita. E a família em peso acabou renunciando à idéia de ver a filha e irmã caçula, boa aluna no colégio, vencedora de competições esportivas na escola - sua mãe tem medalhas dessas vitórias até hoje -, com uma profissão "estável". Mas ao contrário do que Rita às vezes gosta que se pense, ninguém a considera a ovelha negra da família, como chegou a dizer numa de suas músicas. Rita afirma, até mesmo, que os pais não falam com ela, como que revelando a desaprovação deles ao seu modo de vida. Mas é pura invenção. A única restrição que fazem à carreira da filha famosa é que ela é desgastante. "Rita trabalha demais, não tem hora para comer, o que é um perigo para a anemia dela", comenta preocupada dona Romilda. (Essa anemia, inclusive, já levou Rita para o hospital. Ela sabe que para ajudar a resolver o problema deveria deixar de fumar, hábito que lhe tira o apetite. Mas como fazer para deixar o cigarro de lado?).
Nem mesmo a prisão rompeu a solidariedade da família à Rita. Ficaram abalados com o fato, é claro, mas encararam tudo com compreensão. Afinal, é uma forma de retribuir o apego de Rita a eles. "Não parece, mas ela está sempre preocupada conosco, com a casa. Imagine que há pouco tempo fizemos uma reforma, trocamos um piso muito antigo, e Rita ficou brava, disse que aquilo não devia ter sido mudado, que era bonito, precioso, era uma coisa da infância dela", diz dona Romilda. E, na verdade, Rita não fica muito tempo longe da casa dos pais. Como é perto de seu apartamento, está sempre lá, com Beto a tiracolo - ele é o único neto da família, seus brinquedos se espalham pela casa toda.
Agora, tem uma coisa que Rita Lee não é mesmo: dona-de-casa. Cozinhar, não sabe. Fazer compras, também não. E "desligada", precisa que uma secretária viva lembrando seus horários e compromissos. Se dependesse dela própria, jamais chegaria a algum lugar na hora marcada. Ah! mas também o que se pode esperar de alguém que tenha o ascendente em Aquário? (Astrologia é um dos seus assuntos prediletos.) Mas ela não se queixa, afinal é muita sorte ter esse ascendente, pois ela é de Capricórnio, e os capricornianos são muito rígidos e, se não tiverem um Aquário na vida, correm o risco de ser pessoas, no mínimo, muito chatas. Se ela acredita mesmo em tudo isso? Claro, ela tem provas de que astrologia é assunto sério. Pois não foi um astrólogo que muito antes que ela pensasse a respeito, avisou que ela ia ser mãe do Robertinho?
Não sei até que ponto Rita Lee gosta que as pessoas - o seu público - saibam que fora do palco ela é uma mulher que a gente poderia chamar de muito comportada. Que aquela imagem coleante, coberta de brilhos e cores, desaparece completamente quando as luzes dos refletores se apagam. Ela parece apreciar a idéia de que todos a considerem sempre "bem maluca", "muito louca", "garota engraçada", comentários que sempre fizeram a seu respeito, desde o tempo de Os Mutantes, quando ela se fantasiava a cada apresentação do grupo. Não que queira esconder seu apego à família, sua timidez palpável. Mas, sabe como é, se todos ficam sabendo disso, não acabará "dando um gelo" - expressão de Rita - nessa imensa festa que ela armou à sua volta?
Bem, a festa parece firmemente plantada. Os participantes estão sempre atentos às solicitações da rainha. "Rock é música brasileira?", Rita provocava, num dos momentos de seu show Refestança, feito com Gilberto Gil, no ano passado. "E E E E E E E...", endossava em coro a platéia, para ódio dos críticos de Rita - eles existem, como não! Que falem. Que é estrangeira, que tudo o que faz não passa de brincadeira. Não está preocupada. Afinal, ela é de Capricórnio. E dessas que vai, vai, até conseguir o que quer.

Nota: Digitei essa reportagem anos atrás, quando mantinha um site da Rita. Resolvi postar aqui por achá-la muito boa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mulher de peito



Contribuição especial de Eliana

Rita Releeda


O Marlboro na capa da revista no começo dos anos 80 e o Marlboro na capa da revista de 2007

1985: o triste recorde de Rita Lee

Diário Popular - 1º de agosto de 1985

Rita Lee: a mais "vetada" na Velha República.

A Censura atrapalhou muito a carreira de cantores e compositores, no Brasil. Agora, segundo levantamento da própria Divisão de Censura do Departamento de Polícia Federal, a cantora Rita Lee é a compositora mais “vetada” do País desde 1980. Segundo o levantamento, os “mais vetados” são: Rita Lee, com 14 músicas; Aldir Blanc, com dez, e Juca Chaves, com sete músicas. Estão ainda nos arquivos da Censura 4.560 letras musicais vetadas nos últimos quatro anos. Também nas prateleiras da Censura encontram-se 168 peças teatrais. A lista de seus autores inclui, entre outros, Plínio Marcos, Augusto Boal, Nelson Rodrigues, Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Leilah Assumpção, Lauro César Muniz e Chico Buarque. Pelo menos da Censura agora os autores estão livres.

domingo, 24 de maio de 2009

Quem mandou você me mandar um torpedo...


Rita e Roberto, na época do lançamento do Flerte Fatal

1976: notícias da época da prisão da Rita

Diário Popular – 25/08/1976 - Rita Lee e mais três do conjunto presos

Na Divisão de Entorpecentes do DEIC, foram autuados ontem à tarde, em flagrante delito, por uso, porte e tráfico de tóxico, a cantora de rock Rita Lee Jones (26 anos, desquitada, Rua Pelotas, Vila Mariana), suas duas auxiliares Mônica de Melo Lisboa (38 anos), mais conhecida por Matraca, e July Spencer (29 anos), que tem o cognome de Jararaca, assim como Antonio Carlos Fernandes da Conceição (22 anos), o Barba. Antonio Carlos é divulgador do conjunto musical Tutti Frutti, de Rita Lee.

As investigações a respeito foram orientadas a partir de informações que revelavam que na casa de Rita, reuniam-se várias pessoas, consumindo drogas. A casa passou a ser vigiada, assim como o Teatro Aquárius, na Rua 13 de maio, onde viciados em drogas compareciam aos shows de Rita...A cantora, nos seus esclarecimentos, disse que estava grávida e que há um ano não fumava maconha... A segunda fase da diligência foi na Rua Senador João Lira, 82, onde foi presa Mônica, Judy e Antonio Carlos... Entrementes, a Polícia Federal cancelava a autorização para o show de Rita e seu conjunto no Teatro Aquárius.


Popular da Tarde – 27/08/1976 - Justiça leva cantora Rita Lee para a Penitenciária do Estado

Multidão de curiosos, comprimiu-se nos corredores do Fórum Criminal na tentativa de assistir as audiências da cantora Rita Lee, suas empresárias Mônica e Judy, além de Antonio Carlos Fernandes da Conceição, que foram autuados no último dia 24, em flagrante delito por porte de entorpecentes. Por determinação do juiz da 20ª Vara Criminal, Rita Lee foi transferida dos xadrezes do DEIC para a penitenciária do Estado. O magistrado designou o próximo dia 2 de setembro para a audiência de instrução do julgamento e processo.

RITA NEGOU

Rita Lee disse que soube que policiais haviam encontrado na sala de sua casa cigarros de maconha parcialmente fumados, bem como uma lata contendo sementes de maconha. Uma tia que lá estava ocasionalmente foi quem recebeu os policiais, já que a cantora reside sozinha... Para explicar a presença de drogas em sua casa, Rita Lee, que está grávida de 3 mese e em vista de haver caído e rolado de uma escada estava há vários dias no leito a conselho médico, perdendo com isso o controle da casa. Assim, o entorpecente poderia lá ser deixado por qualquer pessoa, pois diariamente recebendo grande número de amigos e admiradores aos quais franqueia a porta...


Diário Popular – 03/09/1976 - Rita Lee: um ano de prisão domiciliar

A cantora Rita Lee Jones, autuada em flagrante, por manter em depósito pequena quantidade de maconha, foi condenada ontem a um ano de prisão domiciliar e multa de 50 salários mínimos pelo juiz Antonio Aurélio Maciel. O magistrado, tendo em vista que a ré é primária e está em estado de gestação, necessitando de tratamento médico especializado, concedeu-lhe o benefício da prisão albergue, instituto que consistem em se recolher das 19 às 7 horas da manhã, permanecendo em liberdade o restante do tempo. O juiz da Vara das Execuções Criminais, Dr Renato Laércio Talli, informou que converteu a prisão albergue de Rita Lee em domiciliar, por falta de “casa do albergado” em São Paulo. Adiantou ainda que Rita Lee poderá ter horário especial de prisão a fim de não atrapalhar suas atividades artísticas, exercidas geralmente à noite...


Curiosos e fãs esperando o julgamento de Rita, em setembro de 1976

Rita Lee, posando para a Elle nos anos 90