ARQUIVOS, IMAGENS, TEXTOS E REPORTAGENS SOBRE RITA LEE, A BIG MAMMA DO ROCK

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Parabéns, Rita. We love you!




Papo de facebook - 31/12 - Aniversário da Rita

Guilherme

Aniversariante do dia. Salve, Santa Rita. Saúde. E mais muitos e muitos anos para fazer um monte de gente feliz. Love you!

Djginger Gingerhot
Fonte de inspiração pra muitos!!! Nossa principalmente né?!?! Bendita Santa Rita De Sampa!!!!!


Guilherme

O lazer de quem trampa. A dona doida da nossa banda! Sem ela, meu mundo seria tão chatinho...

Djginger Gingerhot
É um caso sério que temos com ela desde sempre!!! Um corre-corre sempre que temos a notícia de que ela estará cantando por aqui!! E nós, caçadores de aventura, vamos atrás sempre!! Vítimas desse vírus do amor!


Guilherme

E quem mais vai fazer a gente gritar que vamos "botar fogo nesse asilo"? Jurar que dias melhores virão. "Mandar ele pastar". Berrar pra pedir silêncio. Ou fazer nosso próprio barulho. Um convite para não ter juízo. E dar-se ao luxo de estar sendo fútil agora.

Djginger Gingerhot
E quem se importa? Não queremos luxo, nem lixo! Queremos mais é fazer um yê yê yê de bamba num disco voador a caminho de 3001. Um picnic nos jardins da Babilônia!! E se algum dia nos mandarem parar com isso... Vamos virar pra eles e dizer... Obrigado, não!

Guilherme
Não tem benzedeira, chá de erva-cidreira capaz de curar. 42 graus de febre contente! Teleguiados pela paixonite!

Djginger Gingerhot
Praticamente uma neurose, uma overdose. Somos dependentes de amor!! Derretidos de paixão, lambuzados de sabão!!

Caio
E que a bendita Rita da Lua Cheia continue rogando por nós neste começo de fim! Muitos e muitos anos! Sempre viva, cheia de graça e fazendo muita, mas muita gente feliz! Dentre todos os corações que tenho tatuados, Rita, você é o que eu me lembro mais!

Guilherme
Amém! :P

Djginger Gingerhot
(Esse Amém foi o final de Xuxuzinho?) =P

Guilherme
Adivinha?

sábado, 17 de outubro de 2009

Back!

Algumas das mais belas capas de Rita.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Loira


Loira, na época dos Mutantes

domingo, 28 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 4


Rita de Hamlet. Foto do clipe de "Todas as Mulheres do Mundo", do disco de 93

quarta-feira, 24 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 3

Rita Lee vestida como Cleópatra para o clipe de "Todas as Mulheres do Mundo", do disco de 1993.

terça-feira, 23 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 2

Reportagem de Folha de São Paulo de 1º de julho de 1993 sobre o disco


Rita Lee lança disco 'despojado' e desafia menopausa com rock

Ela já foi uma mutante tropicalista, lançou o sabor tutti-frutti no rock local e criou vários hits na banheira de espuma que dividiu com o marido Roberto de Carvalho. Agora, após a intimista transição "bossa n' roll", Rita Lee se mostra decidida a reassumir seu status de mãe do rock brasileiro.
"Não tenho mais o compromisso de vender milhões de discos — aquela coisa que eu já fui", diz a "mama" roqueira, que até o fim do mês chega às lojas com o álbum "Rita Lee" (Som Livre). Entre as 11 canções inéditas, ela inclui parcerias com Itamar Assumpção, Nelson Motta, Antonio Bivar, Mathilda Kovak, Carlos Rennó e Oswaldo Luiz, além de Roberto de Carvalho.
"É aquela eterna vontade de fazer rock no país do samba", diz Rita, que considera seu novo disco "simples e despojado". "É o rock básico que eu faço há 26 anos. Não tem qualquer sinal de modernidade. Não tem sampler, nenhum sintetizador, nem mesmo bateria eletrônica. Sou mais para Lou Reed do que para Snap."
Falando à Folha de Miami, onde passa suas férias, Rita diz que volta até o fim do mês. Mas o show de lançamento só acontece depois de outubro. "Vou fazer uma banda mais heavy, mais pesadona", avisa.

domingo, 21 de junho de 2009

16 anos do "93"


Mês que vem, o "Rita Lee" ("Todas as Mulheres do Mundo" ou apenas "93", como chamam os fãs) completa 16 anos. Parece que foi ontem que amanheci na loja de disco no dia do lançamento (sim, ainda existiam os discões, saí de lá com a versão vinil, CD e K7) para carregar, na maior emoção e expectativa, aquele discão do caR#####! Rita estava desde 1990 sem gravar um disco de inéditas e vinha de uma turnê de sucesso, Bossa'n Roll (que também virou um belíssimo registro ao vivo em CD/ K7/ vinil).
Era tanto falatório em cima desse disco... e na época não existia esse monte de informações da internet. Ou seja, a gente não tinha idéia do que ia encontrar. Quando coloquei na vitrola o discão, os acordes roqueiros de "Filho Meu" já me ganharam. Estava tudo lá: as letras fodon@s, os temas femininos, o humor ferino, o talento de melhor compositora de todos os tempos, a big mamma do rock e, na minha modesta opinião, a voz mais marcante do mundo, a maior cantora planetária.
A segunda versão de "Ambição" me emocionou. "Menopower" e "Todas as mulheres" me fizeram sorrir, pensar e ter vontade de dançar. "Benzadeusa", Rita e Roberto das mais infalíveis. "Mon Amour", tocante. "Maria Ninguém", homenagem à grande Bardot, com requintes bossa'n Beatles de "Do you want to know a secret". "Drag Queen", "Canaglia","Só vejo azul", delícias sonoras. "Deprê", uma porrada. "Tataratlante" foi a primeira 'preferida'. Depois, o disco inteiro passou a ser de 'preferidas'. Não tem uma música sequer que eu pulasse ou desse um skip no CD. Instant classic a partir do momento em que tocou na minha vitrola. E tocou a minha vida.

Obrigado, Rita!

Guilherme

Para homenagear essa obra fodon@, vamos fazer alguns posts só com material da época.
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Revista Veja - Julho de 1993

Lance de mestre

Rita Lee volta ao rock e lança um grande CD

O novo CD de Rita Lee tinha boas chances de passar despercebido na rotina de lançamentos das gravadoras. O rock nacional saiu de moda sem deixar mais do que três ou quatro verbetes na história da MPB, a própria Rita parecia não saber para onde ir em seus discos recentes e, nos últimos três anos, passou a requentar a própria obra em ritmo de bossa nova. Seu show Bossa'n Roll e o CD homónimo foram grandes sucessos, mas deixaram no ar a pergunta: o que poderá fazer depois disso? A saída encontrada por Rita Lee foi ao mesmo tempo a mais óbvia e a mais arriscada — voltar ao velho rock. Poderia ter dado com os burros n'água. Acabou gravando um dos melhores discos de sua carreira.
No CD, balizado com seu nome, que já está nas lojas, Rita exibe um vigor como intérprete e uma inventividade como letrista como há tempos não se viam. Está irreconhecível. Ou melhor, volta-se a reconhecer nela a compositora esfuziante, irónica, cáustica e desbocada dos bons tempos em que, segundo sua própria definição, roqueiro brasileiro tinha cara de bandido. Não se trata, porém, de uma simples retomada estética do passado. Não teria sentido Rita arvorar-se a ideóloga da rebeldia juvenil na era do Sepultura e do Metallica. O que ela faz é resgatar essa postura para o seu mundo de hoje, o mundo de uma artista de 45 anos. Rita voltou a ser rebelde, mas mudou de assunto.
O resultado dessa virada está, por exemplo, em Todas as Mulheres do Mundo, em que a letra enfoca com ironia tipos femininos de hoje — como as "Irmãs La Dulce beaidetifícadas" e as "Xuxas em crise" — para concluir: Toda mulher quer ser amada Toda mulher quer ser feliz Toda mulher se faz de coitada Toda mulher é meio Leila Diniz.
Está também na escancarada Menopower, em que cutuca um assunto que muitas mulheres têm dificuldade em abordar, a menopausa. Está ainda em Drag Queen, que passa a limpo com carinhoso deboche o mundo dos travestis. Não é coincidência que essas três faixas pincem temas no universo feminino e há outras mais que seguem essa inspiração, como Benzadeusa, Mon Amour e a regravação de Maria Ninguém, de Carlinhos Lyra.
Rita Lee é um disco autoral, que não poderia ser gravado por um cantor ou por uma banda. É um disco permeado da visão feminina do mundo. "Foi por acaso que esses temas foram surgindo", sustenta a compositora.

LIÇÃO DIFÍCIL
Também sob o ponto de vista estritamente musical Rita busca as lições certas no próprio passado. As composições mais leves, de sabor pop, recheadas de teclados e baterias eletrônicas, deram lugar ao rock básico e rascante que ela cultivava há dez anos, em sua carreira solo e nos anos dourados do início da parceria com o marido, Roberto de Carvalho. Pode-se argumentar que é um rock sem novidades, e é mesmo, mas executado por alguém com experiência suficiente para fugir do banal e reinventar o que já é conhecido. Eis aí a lição mais difícil a ser aprendida pelos bons músicos. No panorama internacional, os Rolling Stones há décadas fazem boa arte com os mesmos acordes. Com seu novo disco, Rita, na MPB, deu o seu pulo-do-gato.

Post recheado

Algumas do baú da Eliana!
Gravação do show 3001
Turnê "Yê yê yê de Bamba" (2002)



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Texto extraído da "Enciclopédia do Rock" de 1983


"Minha mãe queria que eu fosse freira, sem saber que eu já era viúva de James Dean." Poderia ser apenas mais um caso da jovem artista caçando atalhos que a desviassem das linhas maltraçadas pelos pais. Só que seguir as escapadas da garota Rita Lee jones conta, por tabela, todos os capítulos da história do país do carnaval que digeriu o rock'n rol!. Capricorníana da turma de 47, sangues italiano, americano e pele-vermelha misturados no caldeirão da capital paulista, e a logo ficou sabendo, na escola não se falava em outra coisa.
No começo, eram a voz e os quadris de Elvis, em ritmo de sinuosos e insinuantes vaivéns. Em casa estava proibido: não havia vitrola e a ordem do dia-a-dia era estudar. Depois, sempre às escondidas, mais dois golpes fatais: Beatles, claro, e o pop doce-ensolarado dos Beach Boys. Rita acabou montando, com duas amigas, seu próprio grupo. De noite a colegial saltava pela janela e virava cantora-baterista das Teen Age Singers. Uma via-sacra de shows em escolas, bailinhos de formatura e até calouros na TV.
Logo vem a passagem, de raspão, pelo primeiro capítulo da história. "Descobertas" por Tony Campelo — irmão da Cely —, as três gravam alguns corinhos de fundo para a primeira safra do rock paulistano — gente que depois ia se juntar na Jovem Guarda. — Como Demetríus e os Jet Blacks. Tudo ia muito bem. Até quando a família descobre — uma crise de apendicite aguda em pleno show — e acaba liberando a filha rockeira para ouvir, dançar, cantar e tocar. Rita ganha até uma bateria de presente de formatura.
Depois da Jovem Guarda, o próximo capítulo já traz outro trio botando fogo e eletricidade no terreno da MPB. Do samba-canção tocado às gargalhadas ao twist da rua Augusta, os Mutantes faziam os rockinhos brasileiros anteriores parecerem cânticos de convento. Mas antes voltemos ao fim das Teenage Singers.


O problema da baterista era que o ídolo Paul McCartney tocava baixo. Ela também queria. Seu primeiro professor foi Arnaldo Dias Baptista que, junto ao irmão-guitarrista Serginho, também circulava pelo circuito de bailinhos e similares com os Wooden Faces. No fim das contas, somando-os ao trio de garotas, nasceu o sexteto Six-sided Rockers. E, para encurtar o conto, sobraram mesmo Rita, Arnaldo e Serginho. Batizados como O Conjunto, chegaram a gravar um compacto: O Suicida, segundo ela "um rock bem paulista que falava em se atirar do Viaduto do Chá".
O nome Mutantes só surgiu em 1966, nos bastidores do programa que Ronnie Von apresentava na TV para concorrer com as tardes de domingo de Roberto e Erasmo (onde a trinca alucinada era barrada, claro, em nome dos velhos bons costumes).
Um dia, faziam em um estúdio o habitual papel de "conho de fundo" quando cruzaram com o compositor da música, Gilberto Gil. Recém-chegados a São Paulo, Gil e Caetano tramavam o movimento Tropicalista, para ligar a MPB na tomada da era Psicodélica. Conversas foram e vieram, o baiano convidou os Mutantes para acompanhá-lo no festival da TV Record.
O histórico festival de 1967. De um lado, coloridas alegrias da Tropicália, fundindo o iê-iê-iê e o folclore nordestino numa só panela. Do outro, a chiadeira cinza-ranzinza dos puristas, torcendo pelo violão & banquinho "brasileiros" contra as guitarras "imperialistas". A televisão transmitia em clima de final de Copa do Mundo. E, bem no meio do fogo-cruzado, os Mutantes; afinal, eram deles as guitarras de Domingo no Porque.
Eles continuavam rindo. Num de seus discos avacalham sem piedade o Chão de Estrelas de Sílvio Caldas, o máximo da emepebice rebuscada. Enturmados de vez com a troupe tropicalista, lá estão eles na capa e no recheio de Tropicália, o famoso disco-manifesto do movimento. E vão continuar anarquizando: Rita de noiva grávida, Arnaldo saído da Idade Média e Sérgio de toureiro. Aparece até um abaixo-assinado dos tradicionalistas, críticos e músicos, pedindo a proibição das guitarras.
O pessoal esperneia mesmo quando o grupo grava um jingle para a Shell. A verdade é que o merchandisíng vai fundo. Em 1969, chega a vez do grupo se apresentar em Paris, vendido com o rótulo de "Beatles brasileiros". Uma típica sessão de macumba para turista; desta vez, Rita vai de baiana, Arnaldo de índio e Sérgio de cangaceiro. Até o primeiro LP individual da mutante, Build Up (1970), vem embrulhado em uma promoção da Rhodia, embalando Rita de modelo.
Por essas e outras, o tempo vai fechando sobre o teto dos três. A chuva de boatos e fofocas sobre a separação engrossa com o lançamento de um novo disco da cantora a sós, apesar de produzido por Arnaldo, com quem se casara. O título é dos mais sintomáticos: Hoje É o Primeiro Dia do Resto do sua Vida. Rita deixaria os Mutantes? Ela desmente... por pouco tempo.

Em 1973, a gravadora Phonogram prepara uma grande festa-show com todo seu elenco. Atrações: surpresas suculentas, como os duetos Gilberto Gil/Chico Buarque e Caetano Veloso/Odair José. Entre elas, Rita lança com a amiga Lúcia Turnbull sua nova aventura: o nome é As Cilibrinas; o som só voz e violão.

Nos Mutantes, Rita compunha uma boa fatia do repertório e das gracinhas corrosivas. Quem traçava as coordenadas, porém, era Arnaldo, que às tantas pretendia uma virada para o estilo dos grupos progressivos ingleses; Trocando em miúdos: adeus letras debochadas, alo misticismos seriosos; adeus suingue e requebrado, alo firulas e pompas classicosas. Na época, a loirinha estava, inclusive, mais ligada no pop futurista de David Bowie. Resultado: tingiu também o cabelo de vermelho e se mandou.
Mas As Cilibrinas não podiam mesmo durar muito. Venceram as saudades da eletricidade e da cozinha pesada, o bloco baixo-bateria. Quando chega a hora de entrar no estúdio, Rita já tinha acoplado o Tutti Frutti, grupo ao gosto: rock entre o cru e o malpassado, levemente pesado, altamente dançável. A festa desse primeiro encontro, Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974), marca o pulo fora da Philips/Phonogram.

Pois Rita não tinha gostado nada da "limpeza" feita pela gravadora no som da banda. Mesmo com a reviravolta tropicalista, uma batalha mais dura ainda emperrava a guerra da digestão. Pelo menos, enquanto encarregavam técnicos de filtrar o rock ao gosto do "consumidor comum": ou abaixam as guitarras, ou tapam tudo com a voz. No caso dela, a gota d'água pingou quando, às escondidas, revestiram a música Menino Bonito de violinos açucarados.

Na Som Livre começa a decolagem até o capítulo de hoje, Rita Lee Superstar. Aproveitando o embalo de Ovelha Negra (1975), espalhada em cadeia de rádio e TV, sai com o Tutti Frutti numa excursão missionária, até a Amazónia, levando rock'n roll. Roqueiros de todo o país, então em quase absoluto jejum, dançavam e se lambuzavam. Iluminação multicolorida, som estrondoso mas cristalino, todos os ingredientes do espetáculo rock-ao-vivo-para-os-cinco-senti-dos. De repente, Rita Lee era a primeira e única dama desse bando de órfãos.

Para ela, um fruto dessa caravana é o sonho fixo em todas as entrevistas da época: molhos e temperos para o "roquenrou" à brasileira. Tanto achou a trilha que Lança Perfume vendeu, em 1981, milhares de cópias na França e na América do Sul. Mas os últimos degraus para o panteão não podem ser contados sem a entrada em cena de Roberto de Carvalho.
A hora é oportuna. Em 1976, ele aparece entre várias turbulências. Primeiro, Entradas e Bandeiras — o LP composto durante a tournê missionária — faz despencar o pique das vendagens e tira o Tutti Frutti de campo. Superestafada, Rita acaba deixando o disco semipronto para o grupo completar. O resultado é o extremo oposto dos "baixos-teores" que provocaram o atrito com a Philips; ou seja, toneladas de pauleira enterrando sua voz. Com Roberto assumindo guitarra e teclados, as sobras do Tutti Frutti são reformadas com o nome Cães & Gatos.


Na sequência, vem a prisão por um punhado de maconha. Desta vez quem se lambuza é a imprensa em manchetes marrons, mas ela, grávida, consegue se safar. Agora, Roberto passa também a acumular a pasta de empresário. E a volta por cima é das mais divertidas.

Com o velho amigo Gil — preso algum tempo antes pelo mesmo motivo — Rita cai na estrada com o show Refestança (que deu o único disco ao vivo da roqueira). Para o ponto alto, a dupla vai pescar É Proibido Fumar no baú da jovem Guarda. Pouca irreverência perto de Arrombou o Festa, que joga de Chico Buarque a Benito de Paula no mesmo saco da MPB seriosa. Apesar de um ou outro protesto furioso, o compacto faz rir os quatro cantos do país. E, como a MPB não se toca, ela volta à carga, no ano de 1979, com Arrombou a Festa nº 2.
Quando o guitarrista-empresário entra de parceiro, o casal passa a aprender e cultivar a arte de agradar a todos os paladares. Nesse LP de 79, o rock é apenas um entre os ritmos da salada pop. Tem até uma discothèque descarada, para horror da legião roqueira que começa a resmungar da deserção. Choramingos à parte, o disco vende quase meio milhão de cópias. O grande sucesso, Mania de Você, inaugura uma Rita Lee romântica de fina sensualidade, hoje marca-registrada.

Consagrada como primeira-dama da música pop brasileira, todos os antigos sussurros de "gringa imperialista" entram para a lata de lixo da história. De repente, passam inclusive a considerar seu arsenal de duplos-sentidos descendente direto das marchinhas do mestre Lamartine Babo. Transbordando de adoração, Caetano Veloso a cita como a "mais completa tradução" de São Paulo. E, para finalizar, vem o aval de João Gilberto, convidando-a para cantar em seu especial para a TV.
Ele, por sua vez, comparece no último disco de Rita em uma gozação dos sambas ufanistas à La Aquarela do Brasil. Com o nome de Roberto de Carvalho já dividindo as honras da capa, o LP retoma o sucesso de Lança Perfume — o anterior, Saúde, vendera apenas a metade. Além disso, escancara-se ainda mais o horizonte pop do casal, atacando de foxtrot, ritmo que embalou os bailinhos da vovó.

Avós e netinhos se misturam à juventude dourada nas platéias que lotam a excursão milionária no verão 82/83. Em efeitos especiais e folia generalizada, organização e entourage, o show não deve nada às superproduções do circo do rock internacional.
No balanço final, 23 cidades e um público total superior a dois Maracanãs. Nas agendas do parceiro-empresário, planos para disseminar a febre planeta afora. Pode ser que todas as brigas e batalhas sejam coisa do passado. Pode ser até que uma nova safra de rocks engraçadinhos — chamados por aí de "filhos de Rita Lee" - esteja superpovoando as trincheiras cavadas desde os tempos dos Mutantes. Mas as aventuras da "viúva de James Dean" não terminam aqui.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sampa

Rita, no Viaduto do Chá. Gravação do clipe Gloria F no centro de São Paulo.

sábado, 13 de junho de 2009

Rita Lee na revista Bizz na época do Flerte Fatal

1987: Revista Bizz - "Rita Lee - Panis Et Circensis"
Reportagem publicada apenas com frases da Rita, falando de carreira, disco e de seu momento na época


Autocrítica

Não sei se eu criticaria a Rita Lee. Vamos ver se eu consigo. Vou lazer uma avaliação de épocas. Como eu vivi num momento dentro do tropicalismo ativo no Brasil - acho que aquilo era uma atitude rock... Veja que coisa mais pré-histórica: não se podia tocar guitarra na MPB! E os Mutantes foram lá e quebraram a coisa. Os tempos mudaram. A Rita Lee... ela não... ela já... Vamos fazer o contrário. Não vamos lazer crítica, vamos entender o lance dela: Rita. Quando ninguém ia ver show de rock, a gente chegava e levava caminhões de mudança pro Brasil inteiro. Mas a música para mim, hoje em dia, não é a minha vida. É apenas uma parcela dela. E Rita Lee é apenas um personagem nessa coisa de música. Eu não precisaria fazer isso (disco, contrato, estrada). Tirei o time de campo, em 83, porque eu estava drogada, estressada. Tirei o time de campo porque eu acho que esse personagem Rita Lee sempre propõe alegria, festa. Houve tempos em que fazer isso era uma revolução. Hoje em dia não é mais.

Rádio Amador
A experiência com Rádio Amador foi uma das coisas mais gostosas e prazerosas que eu já fiz. O prazer de mexer com gente novíssima, com gente que já foi... E a sorte de ter um texto do Bivar toda semana. Mas tivemos que parar para poder divulgar um trabalho. De repente eu não podia fazer o programa porque as rádios deixaram de tocar as minhas músicas. Tenho vontade de fazer rádio de novo. Mexíamos muito com demo tapes. E tem muita gente que ainda não gravou. Estou só esperando, porque se grava muita porcaria nessa coisa de rock. Acho que deveria ter programa de rádio que desse oportunidade para gente nova. Eu entendo a pobreza e os 'debaixo do pano' que rolam. Mas não custava nada arrumar um patrocínio para que em toda rádio tivesse um espaço de uma hora ou meia, que fosse - só para pegar demo tapes.

"AIDS Quem Faz Amor"
O amor é um passo da eternidade. De um lado você tem que ficar muito atento ao fazer amor. É uma coisa que deveria ser levada pelo coração. Mas agora você tem que ter um pouco da razão toda hora que você for fazer amor com um parceiro diferente. É uma situação triste, mas é a cara de 1987, a cara do apocalipse, a cara de Nostradamus, a cara da Peste Negra. Ainda não vejo muito o lado bom da AIDS - deve ter. Sempre tem os dois lados. Mas... Não sei se é minha implicância com os americanos de tanto que eles saquearam o mundo e saqueiam ainda - principalmente o Brasil - mas aquela teoria de que a AIDS foi fabricada em laboratório eu não dispenso. Para mim faz muito mais sentido do que o coitadinho do macaco verde lá da África... E a discriminação que surgiu da coisa gay, quando eu acho que esse lado gay é um benefício para a humanidade, no sentido de controle populacional. Tem que existir a coisa gay, existe entre os animais... Tem também aquela coisa de moral, aquela moral pobre das pessoas que aproveitam uma situação para atacar qualquer um. É terrível! Estamos vivendo em plena ficção científica...


Mutantes, Cilibrinas, Tutti Frutti
Na época era muito duro, mesmo dentro dos Mutantes. Já tinha uma coisa preestabelecida de que eu tinha de tocar pandeiro - só um pandeirinho e uma sainha curta para mostrar as pernas. Aí eu falava: "Oh! Diretor! Eu também tenho talento! Deixa eu provar que eu tenho talento!" Eu gosto de humor, mas não podia. Caetano e Gil tinham sido exilados e os Mutantes ficaram órfãos. Então eles mergulharam dentro da música progressiva e fui convidada a me retirar do grupo achando que: "Oba. vou fazer uma banda!" Nunca me passou pela cabeça ser cantora, tipo Gal Costa, ser a pessoa de frente e ter uma orquestra acompanhando. Sempre encarei a música como brincadeira e poder fazer parte de um grupo. Aí passamos para o Tutti Frutti. E houve um certo clima esquisito, porque eles não conseguiam engolir eu como sendo a figura de frente. Mas o público gostava mais quando eu ia para a frente e eu sempre fui uma pessoa que faz o que o público gosta. Por mais que eu tentasse dividir a coisa, tinha sempre um motim. Isso numa epoca em que o rock'n'roll ainda tinha cara de bandido, imagine uma mulher fazendo rock'n'roll, mais bandida ainda! E os próprios meninos (do Tutti Frutti) eram muito radicais nesse ponto. Chegou num ponto, em Entradas e Bandeiras, em que fui parar no hospital por causa de uma anemia e eles simplesmente limaram (na mixagem) uma boa parte do que eu tinha feito - vocais, todas as interferências minhas... E não aconteceu porra nenhuma (com o disco) porque não tinha a Rita Lee fazendo as gracinhas que o público queria. Antes disso, depois dos Mutantes, teve uma dupla (Cilibrinas) com a Lúcia Tumbuíl. A gente queria fazer uma coisa acústica. Infelizmente fomos abrir para os Mutantes e, não teve dúvidas, fomos apedrejadas. No Tutti Frutti teve problemas com a Lúcia e o guitarrista, e ela acabou saindo por causa da pressão dos meninos. Ficou a coitadinha aqui sozinha, que acabou destransando o grupo da maneira mais sórdida possível. Porque o Sérgio Carlini (guitarra) pegou o nome Tutti Frutti, registrou e até logo para vocês! Pô, esse nome é do Bivar, que na época dirigiu o show da gente. Com Roberto foi legal Acho que é tão mal creditado o lance dele. Porque ele não é marido, ele nem é casado! Roberto é responsável pela metade do trabalho - trata-se de uma dupla, que também é um grupo. Isso é tão mal digerido!

Punks
Os mais punks do planeta são os brasileiros. Gosto muito de Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera... Acho que a coisa que tem mais força da moçada brasileira é o movimento punk. Hoje não consigo ouvir uma música com mais de um minuto... Gosto daquela coisa suja, porca, imunda. Aquilo sim é verdadeiro, é uma revolução. Não adianta dizer que é copiado. O que não é copiado? A gente não deve sofrer influências, deve ter influências. Acho que o movimento punk do Brasil é a melhor coisa que tem, ainda...

Flerte Fatal, o LP
Para o disco, a gente tirou um monte de música da cartola, como "Pega Rapaz", "Bwana", "Xuxuzinho", coisas que a gente sabe que é o vestido da dupla. E sabíamos que as pessoas iam falar: "Pô! Tão continuando na mesma? Não vão mudar?" Não, não vamos mudar. A gente mantém as coisas que dão certo, porra! O povo está fodido, precisando de festa. Não precisa de mais complicações, não precisa de música! Vamos dar o gostoso para eles, vamos dar a sobremesa logo de cara, já que não tem feijão e o sorvete é fácil. Eu gosto de fazer isso, não tenho pudores em fazer mesmices. Se bem que eu não acho que é mesmice. Chamo isso. de estilo. Então, tiramos da cartola um monte de coisinhas para a gravadora vender seu disquinho também, se quiserem.

Gosto, não gosto
Gosto de muita coisa e não gosto de muita coisa. Odeio Smiths, por exemplo. Acho uma bosta, um horror! Aquela bicha louca (imita Morrrssey) não tem nada para me dizer. Prefiro ouvir Cólera. Gosto muito mais do Djavan do que do Lionel Ritchie. Titãs eu acho um barato. E, também, o Lobão.


Outros projetos
Há muito tempo eu namoro com o cinema. Acho que lá pelo final do ano a gente estará filmando Como a Lua. A história é superlegal. Vai ser gravado no Pantanal, e por trás disso tem um manifesto ecológico de preservação do Pantanal. Os americanos estão interessados na produção da coisa. Então vai ter a versão em inglês. Mas este não é o único que eu tenho em vista. Tem um outro que eu não posso falar, senão gora. Fora cinema, queria continuar com literatura infantil. Já tenho o segundo livrinho do rato e chama-se Dr. AIex e os Reis de Angra. Tipo olhar esse lado da energia nuclear, que é uma vergonha no Brasil. Todos morrendo de fome, um monte de criança na Febem e... nuclear? Então tá! Política... Eu seria melhor prefeito que o Jânio Quadros. Ia pensar em limpar o rio Tietê primeiro em vez de cortar árvore a torto e a direito para fazer estacionamento subterraneo... Tenho vontade de um monte de coisa. Tenho vontade de abrir uma creche super alegre, pegar a meninada com aquele potencial de trombadinha, que é fodido, e botar uma massinha na mão deles e ver o que sai dali. Botar uma guitarrinha. Ao mesmo tempo com os velhos... Os velhos! Menopausa criativa uma ova, meu filho! (Rita se refere a um termo usado por um crítico sobre seu último disco.) O velho é uma enciclopédia. Sabe aqueles velhinhos que são sábios? Então eu acho que tem que ter asilos que não sejam pré-cemitério. Tenho vontade de fazer uma reserva fauna-flora e um hospital para loucos, também. Para doido, drogados, alcoólatras. E ter proteção lá. Polícia não entra, meu filho! A Clínica Tobias? Eu estive lá. Eu, Julinho Barroso, Raul Seixas... E tinha gente da imprensa também. Eu perguntava: "Quem é você?" E eles diziam: "Sou da imprensa".

Amém!


Rita, divina em 2001

Mais uma doce contribuição de Eliana

sexta-feira, 12 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tourbook 1980









Tourbook 1980 (contribuição especial e elegante de Eliana)