ARQUIVOS, IMAGENS, TEXTOS E REPORTAGENS SOBRE RITA LEE, A BIG MAMMA DO ROCK

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela - parte 3

Era uma vez uma mulher camponesa, guerrilheira, manequim. Ai de mim!


Com a dissolução do O'Seis, último grupo amador de Rita Lee, após a frustração do compacto nunca lançado, ela e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista se viram na situação de sobreviventes do dilúvio. Agora, era seguir o caminho a três, já que abandonar a música era a última das opções na cabeça da mocinha Rita Lee. Meio na gozação, o novo trio foi balizado de O Konjunto, e assim eles partiram para tocar em festas e até mesmo em shows na lendária cervejaria paulista Urso Branco, juntamente com o então anônimo Jorge Mautner.

Guitarras na MPB. E explode a Tropicália

Como os três jovens músicos ainda estudavam, os ensaios eram feitos nos fins de semana, na casa de Arnaldo e Sérgio, na rua Venâncio Aires, bairro da Pompéia. Lá, no fundo do quintal, o terceiro irmão Baptista, o gênio da eletrônica Cláudio César, mantinha um estúdio louquíssimo onde fabricava instrumentos musicais e equipamentos do género. E assim prosseguia a esforçada carreira d'O Konjunto: apresentação no programa "Astros do Disco" da TV Record (cantando Shame and Scandal in the Family), nos programas "Parada de Sucessos" (acompanhando Tim Maia) e "Quadrado e Redondo", da TV Bandeirantes e no "Show em Simonal", da TV Record (cantando 500 Miles). Um belo dia, surge no cenário artístico Ronnie Von fazendo a linha príncipe encantado, tentando destronar o "Rei Roberto Carlos" e com seu próprio programa de televisão. Rita comenta o lance: "Como nossa experiência com Roberto Carlos (no tempo do O'Seis) não tinha sido lá essas coisas, os bobos da corte passaram pro lado do príncipe, que fazia uma imagem de mais inteligente e bem informado, aparecendo de cara com a versão Meu Bem, dos Beatles. O programa do Ronnie Von dava condições da gente bolar as próprias apresentações. Só faltava um nome para o grupo, pois O Konjunto não dava pé, né? Na época o Ronnie estava lendo um livro chamado O Planeta dos Os Mutantes. Papo vai papo vem, pintou o nome: Os Mutantes."
Corria o ano de 1967 e o movimento Tropicalista começava a revolucionar a MPB. Um dia, nos bastidores do programa de Ronnie Von, os Mutantes foram convidados para fazer vocais no disco de Nana Caimmy.

Com instrumentos feitos em casa, nascem os Mutantes

Rita relembra como foi: — Entramos no estúdio com nossos instrumentos feitos em casa e demos de cara com um crioulo gorducho, de barba, que falava muito alto, chamado Gilberto Gil. A gente o tinha visto no programa "Fino da Bossa", mas não podíamos imaginar que o crioulo era um tremendo roqueiro. Ele puxou o violão e começou a desafiar a gente, numas de "entra nessa cabeludo!". Começamos a cantar Domingo no Parque, o som foi comendo e, no final, ele disse assim: "Como é, moçada, vamos transar juntos nesse próximo festival da Record?". Não foi preciso um segundo convite...
A apresentação de Gil com os Mutantes, no III Festival da Record foi um escândalo! Eles foram os primeiros a usar guitarra elétrica na MPB, e muita gente nunca os perdoou por isso. De qualquer modo, Domingo no Parque tirou segundo lugar e, a partir daí os Mutantes iniciaram uma carreira divertida e de muito sucesso. Participaram de muitos outros festivais, gravaram cinco LPs (Mutantes I, Mutantes H, A Divina Comédia, Jardim Elé-létrico e No País dos Baurets), tocaram em Lisboa, no famosó Olympia de Paris (dividindo o programa com Gilberto Becaud) e no festival Midem, arrombaram a festa muitas vezes e foram muito, muito importantes para a música jovem brasileira. No começo de toda a loucura, Rita ainda estudava Comunicação na USP (na mesma classe de Regina Duarte), mas logo a música e as obrigações de estrela em ascensão falaram mais alto.
Os Mutantes sempre brigavam entre si (como bons irmãos de cabeça) e, nas inevitáveis separações temporárias que pintavam, Rita tratava de cuidar da própria carreira. Foi nessas que ela topou trabalhar como manequim e artista da firma Rhodia durante um ano, participando de duas feiras industriais que ainda se realizam em São Paulo: a UD e a Fenit. Na primeira, ela participava do show que tentava lançar a moda caipira brasileira, chamada Nhô Look. Na segunda, ela era a estrela do show Build Up, no papel da mocinha pobre que sonhava um dia ser estrela.

Nessa fase, Rita lançou seu primeiro LP solo, Build Up, que, além da música tema do show, Sucesso Aqui Vou Eu, continha seu primeiro bít: José. Pouco depois, Rita lançava seu segundo disco solo: Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida.
Faltava pouco para nossa estrelinha encontrar a própria estrada, e assumir corajosamente a barra de segui-la.

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