Roberto de Carvalho e Rita Lee no clipe de Favorita (do "Saúde", de 1981). O vídeo foi feito no quintal da casa em que eles moravam no Pacaembu, em São Paulo, para o especial "Saúde", da Globo.
sábado, 11 de setembro de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Rita e Roberto - Especial 85 - TV Globo - fotos raras de bastidores
Fotos raríssimas - algumas nunca publicadas - do especial de 85, da TV Globo.
No programa, batizado de "Ói nóis aqui traveis", Rita Lee e Roberto de Carvalho apresentaram, em forma de clipes dirigidos por vários diretores, as músicas do disco "Rita e Roberto". Clássicos como "Vítima", "Choque Cultural", "Noviças do Vício" e, claro, "Vírus do amor". Uma curiosidade é que o clipe de "Vírus", gravado no Ibirapuera, mostra o início de uma das demos da canção, com uma música bem mais lenta, que mais tarde seria usada como base para "Livre Outra Vez", do disco "Zona Zen".
Um dos grandes atrativos do especial é que, a exemplo do "Saúde" (1981), a cidade de São Paulo foi cenário para belas e dramáticas cenas de alguns dos vídeos.
Vírus do Amor (no Parque do Ibirapuera)
Molambo Souvenir
Glória F (no Viaduto do Chá)
No programa, batizado de "Ói nóis aqui traveis", Rita Lee e Roberto de Carvalho apresentaram, em forma de clipes dirigidos por vários diretores, as músicas do disco "Rita e Roberto". Clássicos como "Vítima", "Choque Cultural", "Noviças do Vício" e, claro, "Vírus do amor". Uma curiosidade é que o clipe de "Vírus", gravado no Ibirapuera, mostra o início de uma das demos da canção, com uma música bem mais lenta, que mais tarde seria usada como base para "Livre Outra Vez", do disco "Zona Zen".
Um dos grandes atrativos do especial é que, a exemplo do "Saúde" (1981), a cidade de São Paulo foi cenário para belas e dramáticas cenas de alguns dos vídeos.
Vírus do Amor (no Parque do Ibirapuera)
Molambo Souvenir
Glória F (no Viaduto do Chá)
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domingo, 15 de agosto de 2010
Atlântida - Especial Saúde
Clipe de Atlântida, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, retirado do especial "Saúde" (Globo; 1981). O vídeo foi gravado na casa em que eles moravam, no bairro do Pacaembu.
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domingo, 8 de agosto de 2010
Abertura do especial Saúde
Trecho do especial Saúde, de 1981, de Rita Lee e Roberto de Carvalho na Globo. Rita canta um trechinho de José + abertura do programa, que mostra Rita correndo ao redor da casa em que moravam na época, no bairro do Pacaembu, em São Paulo.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Raro compacto francês de Frou-Frou
Seguindo os posts sobre raridades internacionais de Rita Lee e Roberto de Carvalho, esse é o raro compacto 7" francês de "Frou-Frou". O lado B vem com "Só de Você". As músicas - originalmente lançadas em 1982 no Brasil, no mesmo disco de Flagra - foram lançadas na França em 1983. Para a capa, usaram a mesma foto do "Baila Conmigo", o disco com músicas em castelhano.
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sábado, 31 de julho de 2010
Fita K7 italiana - Rita Lee e Roberto - Baila Brazil
Diretamente da época do vinil, uma rara fita K7 lançada pela EMI italiana em 1983. O nome é "Rita Lee e Roberto - Baila Brazil" e tem grandes sucessos da dupla. No lado A: Lanca Perfume (assim mesmo, sem o Ç); Mutante; Baila Comigo; Banho de Espuma; Brazil com S; Mania de Voce (também sem o acento circunflexo no E). No lado B: Saude (de novo sem acento, dessa vez faltando o agudo no U); Atlantida (cadê o circunflexo?); Maria Mole; Doce Vampiro; Flagra.
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quarta-feira, 23 de junho de 2010
Entrevista de Rita na revista Quem - 27/04/2010
Clique aqui para ler a entrevista no site da Quem, na globo.com
“Na minha época, suruba era cultura”
Numa rara entrevista cara a cara com um jornalista, a cantora, de 62 anos, falou que um de seus prazeres atuais é lavar louça, admitiu que já transou com mulher, disse que chegou a ir a comícios sob o efeito de ácido e revela que só gostou de sexo depois de sua primeira vez com Roberto de Carvalho, seu marido e parceiro há mais de 30 anos
Por Guilherme Samora
Encarar os grandes olhos azuis e os cabelos vermelhos de Rita Lee tornou-se uma experiência rara para jornalistas. Ela não gosta de dar entrevistas e, quando o faz, prefere o e-mail. Abriu exceção para QUEM. Acompanhada da cadelinha Kika, um de seus inúmeros animais de estimação, ela recebeu a reportagem da revista, na segunda-feira (19), em um de seus endereços em São Paulo, um prédio no bairro do Morumbi, Zona Sul da cidade.
Inicialmente, a conversa seria para falar de sua nova turnê, batizada de Etc...., que estreou no sábado (17), em Belo Horizonte. No entanto, o bate-papo enveredou por muitos outros assuntos. Rita falou, por exemplo, de seus atuais prazeres. Lavar louça é um deles. O outro é brincar com a neta, Izabella, de 4 anos, filha de Beto Lee, o mais velho de seus três filhos – os outros são João e Antônio. Um prazer antigo, o de acompanhar novelas, perdeu espaço para a leitura voraz de livros policiais. Aos 62 anos, Rita praticamente só sai de casa para fazer shows. Ela não vai mais a festas e detesta shoppings. “Estou pão-dura. Nem com roupa gosto de gastar dinheiro”, diz ela, que adotou o jeans e a camiseta como figurino de shows. Ela também não tem celular, não aderiu ao Twitter nem tampouco tem perfil no Facebook.
A mais completa tradução do rock brasileiro e de tudo o que esse gênero musical significou como movimento de contestação, vovó Rita não se considera rebelde. Nem nunca se considerou. Mas, na conversa com QUEM, relembra episódios de sua vida que contradizem a autodefinição. Ela fala com franqueza que transou com mulher, participou de orgias sexuais, assistiu a comícios políticos sob o efeito de ácido e, singelamente, afirma que só sentiu prazer no sexo com o marido e parceiro musical, Roberto de Carvalho, com quem está casada há mais de três décadas. No final da entrevista, que durou mais de duas horas, ainda deu para falar da turnê, que estreia em São Paulo em 14 de maio, no HSBC Brasil, e, no Rio de Janeiro, em 16 de julho.
QUEM: Essa fama de rebelde que você carrega desde sempre...
RITA LEE: Não me acho rebelde! Não concordo quando me chamam de irreverente. Nada menos irreverente que a palavra irreverente. Não me acho esquisita. Mas entendo que muita gente me ache esquisita (risos). Eu me acho absolutamente calminha.
QUEM: Mas você se deu bem no mundo machista do rock dos anos 60, se vestiu de noiva grávida no festival da Record (1969) e até de Nossa Senhora Aparecida num show de 1995...
RL: Mas isso é tudo coisa de palco. É teatro! É gostoso ser outra pessoa. É espontâneo. Em época política, quando as pessoas assistiam a comício, eu também ia. Mas ia viajando de ácido. Era uma loucura! Na época da ditadura, eu tinha mais do que necessidade de encher a cara para não ter minhas asas cortadas.
QUEM: Mas sua prisão, em 1976, teve muito a ver com sua postura, não?
RL: Sim! Foi para servir de exemplo mesmo, nessa coisa de drogas. Fui bode expiatório total... chegaram em casa e me prenderam injustamente.
QUEM: Então, estava sem drogas quando a prenderam?
RL: Eu estava completamente careta. Imagina, estava grávida (de seu primeiro filho, Beto)! Não tinha nada em casa. Eles que plantaram. Eu fui muito imbecil! Na hora em que chegaram em casa, era de madrugada. Uns sete caras. Achei que eram roqueiros, de moto, jaqueta, tudo boy. Entraram, não mostraram nenhum documento, mandado, nada. Disseram que era a polícia e eu abri a casa. Não tinha motivo para me esconder: a hippie estava grávida, pura, sem nada. Eles então apareceram com um saco. Me colocaram no camburão e fizeram uma procissão pelas delegacias, me levando como troféu... tadinha!
QUEM: Era um saco com maconha?
RL: Sim. Quando cheguei no juiz, eles botaram um monte em cima da mesa. E disseram que era tudo meu. Foi louco, fiquei presa no Deic, que era a prisão política. Fiquei uma semana lá, junto com travecas, prostitutas. E delas não tenho o que falar. Tudo gente boa, mesmo! Só que tinha um maldito delegadinho que entrava na cela e mijava no chão pra gente não poder sentar. Ainda fiquei mais um mês presa e depois um ano de prisão domiciliar. Para fazer show, eu tinha que pedir para o juiz e mostrar exame de sangue. Tive o Beto em prisão domiciliar. Fui ao gineco (logista) e ele não escutou o coraçãozinho do Beto bater. Ele estava com o cordão umbilical enrolado e fui direto para o hospital. Foi a maior sorte ele ter nascido.
QUEM: Esses temas do universo feminino, como gravidez, menstruação, sempre estiveram em suas músicas.
RL: Ah, são fases pelas quais passei e gosto de escrever sobre isso. Mas eu tenho um lado masculino, sem dúvida. Sempre brinquei com meninos, tinha carrinho de rolimã. Nunca brinquei com boneca. (Na infância) Eu tinha o cabelo lindo! Até a cintura. Era a única coisa que eu tinha de bonito – e minha mãe cortou! Em formato de cuia! Tipo índio. Minha irmã (Virgínia) me chamava de “menino baiano”. Hoje, acho muito chique ser baiano! Mas na época fiquei arrrasada com o apelido. E quando fiquei jovem, sem peitinho, sem pelinho, sem bundinha, o apelido continuou...
QUEM: O Erasmo Carlos disse, na biografia dele, que todo mundo queria a Rita Lee, que você era uma das mais lindas entre as cantoras que se apresentavam nos festivais.
RL: Eu li. Imagina, olha que louco! Eu nunca fui bonita. Não mesmo! A adolescência foi um problema só! Muito complexo. As outras meninas tinham pentelho, eu não tinha. As outras tinham peito, eu não tinha. A bunda, uma tábua! Podia até ser interessante, mas linda eu não era.
QUEM: Você teve esse lado meio masculino-feminino como uma de suas marcas. Já teve curiosidade com mulheres?
RL: Lógico!
QUEM: E experimentou?
RL: Claro, nessa vida temos que experimentar tudo!
QUEM: O que achou do sexo com mulher?
RL: Não rolou. Não foi nada de tão emocionante que fizesse mudar de gosto. Foi legal. Mas, na minha época, suruba era cultura. Tinha que experimentar. Se não experimentar quiabo, como é que vai saber se vai gostar? Mas, sei lá, não gostava de sexo. Nem com rapazes nem com meninas. Na época, eu achava que era de outro planeta.
QUEM: Perdeu a virgindade tarde?
RL: Foi. Com uns 19... Era uma coisa fingida, sabe? Para dizer que eu era como todo mundo, que tinha namoradinho. Mas eu estava muito na batalha de sair da casa do meu pai, da música... um monte de coisa que era muito mais importante. Nunca fui de dar.
QUEM: O mais curioso é que, no final dos anos 70, você convida o Brasil para sua cama. Faz Mania de Você, em que fala de fazer amor por telepatia. O que mudou?
RL: Roberto! Sem dúvida! Ele é muito bonito. Era uma coisa!
QUEM: Então, você descobriu o prazer com ele?
RL: Foi! E só com ele! Essa coisa do tesão e de trepar feito coelhos, só tive com ele. Aqueles namoradinhos e flertezinhos do passado não me batiam a periquita. Mas depois, com Roberto... nossa! Ele foi uma aparição (risos).
QUEM: E ainda estão casados...
RL: Está vendo? Depois dizem que eu sou louca e rebelde (risos)...
QUEM: Vocês brigam?
RL: Às vezes, a gente tem um enfrentamento quando faz uma música. A tendência dele é cuidar demais. É fazer uma coisa chique. E eu falo: “Faz menos chique, vamos errar um pouco” (risos). Não tem briga de não se falar, mas tem bate-boca. Mas isso eu acho bom, senão ia ser chato.
QUEM: Você não vai mais a festas, não gosta de sair de casa...
RL: Festas, barulho, pessoas conversando, isso não me interessa! Depois de show, só leio, leio, leio. Estou lendo o tempo todo. Adoro literatura policial. Gosto de ficar bundando em casa, vendo meus bichinhos. Não sei cozinhar, mas sou boa faxineira. Tenho um certo prazer em lavar louça. Tem uma lógica: não é só jogar lá, abrir a água... tem que economizar água, economizar sabão, tem a ordem de lavar as coisas. E ser avó, que é uma delícia. Agora, Ziza (a neta, Izabella) está mais metida de saber falar coisas sobre computador. Ela está desenhando que é uma coisa! E está falando umas barbaridades com a Gungum (personagem de Rita, que tem 3 anos e meio e é uma criança-problema). Coisas que para a avó Rita e para o pai ela não conta (risos)!
QUEM: Nesse dia a dia em casa, há espaço para os cuidados com o corpo, a pele?
RL: Nada! Nem creme eu passo. Filtro solar no rosto até vai. Maquiagem, só no show.
QUEM: Você sempre diz ter 65 anos e, na realidade, tem 62. Qual o motivo disso?
RL: Aí que está o negócio. Você fala que tem mais do que sua idade real e as pessoas acham que você está bem (risos).
QUEM: E suas tatuagens pelo corpo?
RL: Tenho a estrela de sete pontas nas mãos, que fiz quando sonhei com minha mãe pedindo para que eu não colocasse mais coisa ruim na boca, se é que me entende. No pulso, estão escritos (em círculo) os nomes do Roberto, Beto, Juca e Tui (apelidos dos três filhos). Quando sinto que um deles está precisando de apoio, eu passo um óleo perfumado em cima do nome e fico me concentrando nele. Aqui tem o que (pergunta, enquanto abaixa a gola da camiseta, no braço esquerdo)? Ah, esses desenhos representam os degraus da iluminação e, aqui (no braço direito), tenho figuras geométricas, pois sempre adorei geometria. Aqui (entre os seios), eu tenho três estrelinhas, três pentágonos, que representam meus três meninos. E vou fazer uma lagartixa na perna, que eu mesma desenhei. O que odeio aranha e barata adoro lagartixa!
QUEM: As duas plásticas que você fez, foram para tirar marcas de acidentes...
RL: Sim, uma foi depois de um acidente de carro, nos anos 80, em Natal. Depois, foi naquela queda, quando esfacelei o maxilar (Rita teve um traumatismo ao cair em seu sítio, nos anos 90, e colocou um pino de titânio na articulação do maxilar).
QUEM: Teria feito as plásticas se não fossem os acidentes?
RL: Não tenho nada contra. Mas eu tinha que estar muito louca para fazer plástica! Mas eu entendo o motivo de as rugas estarem aqui. Você sabe: eu aprontei demais! E não posso reclamar: até que estou bem para tudo o que fiz (risos)!
“Na minha época, suruba era cultura”
Numa rara entrevista cara a cara com um jornalista, a cantora, de 62 anos, falou que um de seus prazeres atuais é lavar louça, admitiu que já transou com mulher, disse que chegou a ir a comícios sob o efeito de ácido e revela que só gostou de sexo depois de sua primeira vez com Roberto de Carvalho, seu marido e parceiro há mais de 30 anos
Por Guilherme Samora
Encarar os grandes olhos azuis e os cabelos vermelhos de Rita Lee tornou-se uma experiência rara para jornalistas. Ela não gosta de dar entrevistas e, quando o faz, prefere o e-mail. Abriu exceção para QUEM. Acompanhada da cadelinha Kika, um de seus inúmeros animais de estimação, ela recebeu a reportagem da revista, na segunda-feira (19), em um de seus endereços em São Paulo, um prédio no bairro do Morumbi, Zona Sul da cidade.
Inicialmente, a conversa seria para falar de sua nova turnê, batizada de Etc...., que estreou no sábado (17), em Belo Horizonte. No entanto, o bate-papo enveredou por muitos outros assuntos. Rita falou, por exemplo, de seus atuais prazeres. Lavar louça é um deles. O outro é brincar com a neta, Izabella, de 4 anos, filha de Beto Lee, o mais velho de seus três filhos – os outros são João e Antônio. Um prazer antigo, o de acompanhar novelas, perdeu espaço para a leitura voraz de livros policiais. Aos 62 anos, Rita praticamente só sai de casa para fazer shows. Ela não vai mais a festas e detesta shoppings. “Estou pão-dura. Nem com roupa gosto de gastar dinheiro”, diz ela, que adotou o jeans e a camiseta como figurino de shows. Ela também não tem celular, não aderiu ao Twitter nem tampouco tem perfil no Facebook.
A mais completa tradução do rock brasileiro e de tudo o que esse gênero musical significou como movimento de contestação, vovó Rita não se considera rebelde. Nem nunca se considerou. Mas, na conversa com QUEM, relembra episódios de sua vida que contradizem a autodefinição. Ela fala com franqueza que transou com mulher, participou de orgias sexuais, assistiu a comícios políticos sob o efeito de ácido e, singelamente, afirma que só sentiu prazer no sexo com o marido e parceiro musical, Roberto de Carvalho, com quem está casada há mais de três décadas. No final da entrevista, que durou mais de duas horas, ainda deu para falar da turnê, que estreia em São Paulo em 14 de maio, no HSBC Brasil, e, no Rio de Janeiro, em 16 de julho.
QUEM: Essa fama de rebelde que você carrega desde sempre...
RITA LEE: Não me acho rebelde! Não concordo quando me chamam de irreverente. Nada menos irreverente que a palavra irreverente. Não me acho esquisita. Mas entendo que muita gente me ache esquisita (risos). Eu me acho absolutamente calminha.
QUEM: Mas você se deu bem no mundo machista do rock dos anos 60, se vestiu de noiva grávida no festival da Record (1969) e até de Nossa Senhora Aparecida num show de 1995...
RL: Mas isso é tudo coisa de palco. É teatro! É gostoso ser outra pessoa. É espontâneo. Em época política, quando as pessoas assistiam a comício, eu também ia. Mas ia viajando de ácido. Era uma loucura! Na época da ditadura, eu tinha mais do que necessidade de encher a cara para não ter minhas asas cortadas.
QUEM: Mas sua prisão, em 1976, teve muito a ver com sua postura, não?
RL: Sim! Foi para servir de exemplo mesmo, nessa coisa de drogas. Fui bode expiatório total... chegaram em casa e me prenderam injustamente.
QUEM: Então, estava sem drogas quando a prenderam?
RL: Eu estava completamente careta. Imagina, estava grávida (de seu primeiro filho, Beto)! Não tinha nada em casa. Eles que plantaram. Eu fui muito imbecil! Na hora em que chegaram em casa, era de madrugada. Uns sete caras. Achei que eram roqueiros, de moto, jaqueta, tudo boy. Entraram, não mostraram nenhum documento, mandado, nada. Disseram que era a polícia e eu abri a casa. Não tinha motivo para me esconder: a hippie estava grávida, pura, sem nada. Eles então apareceram com um saco. Me colocaram no camburão e fizeram uma procissão pelas delegacias, me levando como troféu... tadinha!
QUEM: Era um saco com maconha?
RL: Sim. Quando cheguei no juiz, eles botaram um monte em cima da mesa. E disseram que era tudo meu. Foi louco, fiquei presa no Deic, que era a prisão política. Fiquei uma semana lá, junto com travecas, prostitutas. E delas não tenho o que falar. Tudo gente boa, mesmo! Só que tinha um maldito delegadinho que entrava na cela e mijava no chão pra gente não poder sentar. Ainda fiquei mais um mês presa e depois um ano de prisão domiciliar. Para fazer show, eu tinha que pedir para o juiz e mostrar exame de sangue. Tive o Beto em prisão domiciliar. Fui ao gineco (logista) e ele não escutou o coraçãozinho do Beto bater. Ele estava com o cordão umbilical enrolado e fui direto para o hospital. Foi a maior sorte ele ter nascido.
QUEM: Esses temas do universo feminino, como gravidez, menstruação, sempre estiveram em suas músicas.
RL: Ah, são fases pelas quais passei e gosto de escrever sobre isso. Mas eu tenho um lado masculino, sem dúvida. Sempre brinquei com meninos, tinha carrinho de rolimã. Nunca brinquei com boneca. (Na infância) Eu tinha o cabelo lindo! Até a cintura. Era a única coisa que eu tinha de bonito – e minha mãe cortou! Em formato de cuia! Tipo índio. Minha irmã (Virgínia) me chamava de “menino baiano”. Hoje, acho muito chique ser baiano! Mas na época fiquei arrrasada com o apelido. E quando fiquei jovem, sem peitinho, sem pelinho, sem bundinha, o apelido continuou...
QUEM: O Erasmo Carlos disse, na biografia dele, que todo mundo queria a Rita Lee, que você era uma das mais lindas entre as cantoras que se apresentavam nos festivais.
RL: Eu li. Imagina, olha que louco! Eu nunca fui bonita. Não mesmo! A adolescência foi um problema só! Muito complexo. As outras meninas tinham pentelho, eu não tinha. As outras tinham peito, eu não tinha. A bunda, uma tábua! Podia até ser interessante, mas linda eu não era.
QUEM: Você teve esse lado meio masculino-feminino como uma de suas marcas. Já teve curiosidade com mulheres?
RL: Lógico!
QUEM: E experimentou?
RL: Claro, nessa vida temos que experimentar tudo!
QUEM: O que achou do sexo com mulher?
RL: Não rolou. Não foi nada de tão emocionante que fizesse mudar de gosto. Foi legal. Mas, na minha época, suruba era cultura. Tinha que experimentar. Se não experimentar quiabo, como é que vai saber se vai gostar? Mas, sei lá, não gostava de sexo. Nem com rapazes nem com meninas. Na época, eu achava que era de outro planeta.
QUEM: Perdeu a virgindade tarde?
RL: Foi. Com uns 19... Era uma coisa fingida, sabe? Para dizer que eu era como todo mundo, que tinha namoradinho. Mas eu estava muito na batalha de sair da casa do meu pai, da música... um monte de coisa que era muito mais importante. Nunca fui de dar.
QUEM: O mais curioso é que, no final dos anos 70, você convida o Brasil para sua cama. Faz Mania de Você, em que fala de fazer amor por telepatia. O que mudou?
RL: Roberto! Sem dúvida! Ele é muito bonito. Era uma coisa!
QUEM: Então, você descobriu o prazer com ele?
RL: Foi! E só com ele! Essa coisa do tesão e de trepar feito coelhos, só tive com ele. Aqueles namoradinhos e flertezinhos do passado não me batiam a periquita. Mas depois, com Roberto... nossa! Ele foi uma aparição (risos).
QUEM: E ainda estão casados...
RL: Está vendo? Depois dizem que eu sou louca e rebelde (risos)...
QUEM: Vocês brigam?
RL: Às vezes, a gente tem um enfrentamento quando faz uma música. A tendência dele é cuidar demais. É fazer uma coisa chique. E eu falo: “Faz menos chique, vamos errar um pouco” (risos). Não tem briga de não se falar, mas tem bate-boca. Mas isso eu acho bom, senão ia ser chato.
QUEM: Você não vai mais a festas, não gosta de sair de casa...
RL: Festas, barulho, pessoas conversando, isso não me interessa! Depois de show, só leio, leio, leio. Estou lendo o tempo todo. Adoro literatura policial. Gosto de ficar bundando em casa, vendo meus bichinhos. Não sei cozinhar, mas sou boa faxineira. Tenho um certo prazer em lavar louça. Tem uma lógica: não é só jogar lá, abrir a água... tem que economizar água, economizar sabão, tem a ordem de lavar as coisas. E ser avó, que é uma delícia. Agora, Ziza (a neta, Izabella) está mais metida de saber falar coisas sobre computador. Ela está desenhando que é uma coisa! E está falando umas barbaridades com a Gungum (personagem de Rita, que tem 3 anos e meio e é uma criança-problema). Coisas que para a avó Rita e para o pai ela não conta (risos)!
QUEM: Nesse dia a dia em casa, há espaço para os cuidados com o corpo, a pele?
RL: Nada! Nem creme eu passo. Filtro solar no rosto até vai. Maquiagem, só no show.
QUEM: Você sempre diz ter 65 anos e, na realidade, tem 62. Qual o motivo disso?
RL: Aí que está o negócio. Você fala que tem mais do que sua idade real e as pessoas acham que você está bem (risos).
QUEM: E suas tatuagens pelo corpo?
RL: Tenho a estrela de sete pontas nas mãos, que fiz quando sonhei com minha mãe pedindo para que eu não colocasse mais coisa ruim na boca, se é que me entende. No pulso, estão escritos (em círculo) os nomes do Roberto, Beto, Juca e Tui (apelidos dos três filhos). Quando sinto que um deles está precisando de apoio, eu passo um óleo perfumado em cima do nome e fico me concentrando nele. Aqui tem o que (pergunta, enquanto abaixa a gola da camiseta, no braço esquerdo)? Ah, esses desenhos representam os degraus da iluminação e, aqui (no braço direito), tenho figuras geométricas, pois sempre adorei geometria. Aqui (entre os seios), eu tenho três estrelinhas, três pentágonos, que representam meus três meninos. E vou fazer uma lagartixa na perna, que eu mesma desenhei. O que odeio aranha e barata adoro lagartixa!
QUEM: As duas plásticas que você fez, foram para tirar marcas de acidentes...
RL: Sim, uma foi depois de um acidente de carro, nos anos 80, em Natal. Depois, foi naquela queda, quando esfacelei o maxilar (Rita teve um traumatismo ao cair em seu sítio, nos anos 90, e colocou um pino de titânio na articulação do maxilar).
QUEM: Teria feito as plásticas se não fossem os acidentes?
RL: Não tenho nada contra. Mas eu tinha que estar muito louca para fazer plástica! Mas eu entendo o motivo de as rugas estarem aqui. Você sabe: eu aprontei demais! E não posso reclamar: até que estou bem para tudo o que fiz (risos)!
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sábado, 29 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
Babilônia - a turnê (1978)
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sábado, 2 de janeiro de 2010
Yê yê yê dos 80
Nesse post, fizemos uma compilação dos anos 80. Algumas fotos, discos raros e capas de revista/ reportagens da época. Todos os textos do blog são digitalizados com software de reconhecimento de palavras. Portanto, pode haver algum errinho, uma letra faltando ou alguma parte não reconhecida. Mas, pelo que vi, está tudo em cima. Aproveitem!
BAILA CONMIGO
Disco lançado em 82/ 83 nos Estados Unidos, Europa, América Latina e Japão. Abaixo, a lista de músicas, todas cantas em espanhol por Rita, e capas das versões americana, argentina e japonesa. Uma curiosidade é que no disco argentino existe um erro nos créditos: o co-produtor - a produção é de Rita e Roberto - está como "Craca Mello". Reconhece? Pois é, é o Guto Graça Mello. Na versão americana o nome dele aparece corretamente.
1. "Baila Conmigo"
2. "Nos Se Olvida"
3. "Atlantida"
4. "Pide Mas"
5. "Caso Serio"
6. "Mania De Ti"
7. "Dulce Vampiro"
8. "Baño De Espuma"
9. "Corre Corre"
10. "Lanza Perfume"
Versão argentina
Versão americana
Versão japonesa
CAPAS DE REVISTA
Fatos e Fotos - 1981
"Lanca-Perfume é baseada em tempos de garota"
Rita, paulista como ninguém. Rita, meu bem, você nos dá água na boca! Rita, rosto de menina, na verdade balzaquiana, agora definitivamente sócia-atleta do fechadíssimo clube dos ídolos nacionais. Rita, filha — artística — de Gil e outros baianos que tais. Rita, a que conhece essa cara, essa fala, essa tara de louco, esse fogo, esse jeito escandaloso. Rita, chega mais, chega mais! Rita, do rock, da balada, da discoteca, do reggae, dofunky, da batucada e até da cantiga de roda. Rita, rainha dos agitos brasileiros. Rita, romântica. Rita, a que pode voltar às origens e gravar um disco nos Estados Unidos. Rita, a que se não fosse uma guerra — a de Secessão —, não estaria cantando pra gente, em bom brasileiro, já passou de português: “Orra meu!”
RITA LEE Sensacional
RITA: Eu adoro Sampa!
Fatos e Fotos: Samba?
R:San Paulo.
FF:Só por que você adora dinheiro?
R:Gosto de dinheiro, não adoro.
Você nasceu lá?
Na Vila Mariana.
Ah... você é uma Jones não apenas uma Smith qualquer.
Sou uma Jones, mas não de nenhuma multi-lacional de calça Lee. Sou Jones de imigrantes imericanos que não concordaram com o resul-:ado da Guerra de Secessão... eles eram sulis-:as... e vieram para o Brasil... foi a maior migração americana, depois que os nortistas sanharam...
... daí, você acabou numa multinacional... mas me explica por que é que você está ven¬dendo tanto disco assim...
... porque as pessoas devem estar gostando, né?
E você, está gostando?
Claro. O que eu não gosto, não faço.
No tempo dos Mutantes, você não apelava?
O que é apelar?
É fazer o que a gente não gosta.
No tempo dos Mutantes...
... e agora, você não acha que está se repe¬tindo um pouco, não?
Você acha? Sabe... você pergunta de uma forma meio esquisita, eu não sei se você está me agredindo, me gozando...
... ou estou amando você... pode?
Hummm...
... pode?
Deve.
E vai ter mais!
Vou ter bebé.
Terceiro, né? E como é que você transa com os outros dois?
Eles são uns amores, paixões da minha vida, gracinhas...
... que transam sua música...
... não curtem mais do que qualquer outra criança.
Seu público é infantil?
Tem bastante criança...
... e por que você saiu de casa?
Pra voltar, depois que tive filhos. Daí passei a entender meus pais, que são uns amores...
... os filhos ou os país?
Ambos.
E daí você era uma menininha rica...
.. você cismou que todo americano é rico. Pois meu pai não era... mas minha vida era uma delícia... minha mãe ainda mora no mesmo lugar... só que agora lá está cheio de fábricas e tal... não está legal... mas no meu tempo era ó-t-i-m-o, eu conhecia toda a vizi¬nhança, toda a molecada, eu ia à escola a pé pra não gastar dinheiro...
... escola pública...
... não, era uma escola francesa, rígida pra chuchu... mas era uma escola muito boa... mi¬nhas irmãs tinham estudado lá...
... eu sempre achei que você era filha única...
... Sou a mais nova.
Nunca o scandal in thefamily...
... mas sempre a ovelha-negra.
Como toda caçula.
É, caçula tem uma certa tendência a essas coisas.
Como essa que vai nascer aí do seu ventre.
Deve ser ela, depois de dois meninos.
E como é que era, na Vila Mariana?
Era ótimo, parecia aquelas historinhas de filme... tenho ótimas recordações...
... e a música pintou como?
Mãe italiana, tocando piano... meu pai nas¬ceu em Santa Bárbara D'Oeste... meu avô é que era americano... aliás, minha mãe também nasceu aqui, o pai dela é que era napolitano... ela nasceu em Rio Claro, quer dizer, tudo do interior... e era um barato, porque variava... a gente ia do lado dos americanos, conserva¬dores, para os italianos, mais pobres ainda... meu avô era alfaiate e pai de nove fiíhos... quando eu ia passar as férias lá em Rio Claro era uma delícia... aquela ítalianada muito ale¬gre, muita festa, muita macarronada... o lado americano já era mais tímido... mas tudo gente boa, porque com eles vieram os negros, que também não se conformaram com a guerra...
... você falou que transava melhor com o lado italiano; o que é esse tal de transar legal?
Eu transava muito música. Minha mãe can¬tava, tocava piano, um tio tocava violino. E a música começou aí. Quando minha mãe ata¬cava de Dança do Fogo, no piano, eu ficava louca, simplesmente 1-o-u-c-a... eu me lembro da música ter batido em mim nessa época; eu devia ter uns quatro ou cinco anos... minha mãe pisava no piano, digo, pisava no pedal do piano e as mãos mais em cima, no teclado... (RISADA)... aí teve uma fase musical de mi¬nha irmã mais velha, Mary Lee... todas Lee, por causa daquele general que perdeu a guerra mas não perdeu a honra... ahhhh... (OUTRA RISADA)... e essa irmã era 10anos mais velha do que eu... morreu um mês antes do John Lennon... e ela descobriu ojazz, o Cauby Pei¬xoto... e como era mais velha, tinha o quarti¬nho dela, tinha a vitrolinha dela, e começou a transar Ray Charles, Frank Sinatra, Tito Madi... e eu ia pró quarto dela fazer um pouco minha cabeça... a gente ficava alucinada com Blue Gardenia... daí teve a fase de minha outra irmã, Virgínia Lee, uma fase meio pré-rock, pré-Elvis, tipo Connie Francis e tal... já era um outro tipo de dado que eu estava-tendo. Em casa não tinha vitrola, meu pai não deixava por causa dos estudos... aí quando entrei no giná¬sio, com 11 anos, tinha umfoyer... o Pasteur, meu colégio, tinha meninas ricas, meninas po-bres e meninas de classe média, mas o estudo era um só... mas havia uma garotada, rica pra chuchu, que tinha discos de Elvis Presley, na¬quelas vitrolinhas portáteis... e eu ficava sim¬plesmente a-1-u-c-i-n-a-d-a, não via a hora de bater o sinal pra ir até o foyer escutar o Elvis... foi a minha grande comotion, realmente fiquei comovida com Elvis, thepelvis... era só o que eu queria: Elvis na veia! (GARGALHADA)
E daí?
Fiz um grupo de garotas, imediatamente, no colégio.- Aí comecei a fazer festinhas de escola, comecei Os Mutantes, que estavam exata-mente na mesma que eu... na minha forma¬tura, não pedi vestido nem nada, pedi uma bateria mesmo... aí me deram uma bateria Caramuru, que custou 27 cruzeiros... e lá eu tocando-em festinhas e tal, numa delas, meu pai me descobriu, quando tive um ataque de apendicite... não houve altos esporros, não; apenas descobriram que eu estava transando música... jamais fui CDF, mas jamais repeti de ano... eu gostava da escola porque lá podia me extravasar mais, em casa era meio fechada...
... daí pintou Gilberto Gil... festival da Record. Meu pai: "Quer dizer que você não vai mais estudar!" Eu: "Não sei, acho que o que quero é mesmo fazer música, sei lá"...
... e ele, agora, que você é sucesso, não está arrependido disso?
Não sei. Ele dizia: "Quer comprar um sapato? Então, vai engraxar o meu!" Sempre tome-lá-dá-cá. E isso me deu um sentido de independência muito maior: quando saí de casa sabia que não podia contar com roupinhas lavadas e passadas, mas ao mesmo tempo sabia que tinha o precinho, então fui morar com pessoas... e sempre me dei bem...
... e você faz isso com seus filhos?
Faço. Não acho legal ficar pap.aricando mui¬to, sabe!
O que é que você chama de paparicar?
É aquela coisa de mãe-eu-quero-um-carrlnho... não é legal pra eles, sabe... tem coisas que a gente gosta e tem coisas que a gente joga fora....
... o que é que você jogou fora?
Tem um negócio que todo pai e toda mãe têm, aquilo de, por puro amor, forçar... meu pai tinha, na cabeça dele, que eu tinha de ser odontologista... (RISADA)...
... você já se imaginou presa entre quatro paredes?
Mas dá pra entender, né, negócio de pai e mãe, na melhor das boas intenções, no maior amor... só que tem uma hora que a gente diz não, aliás, com a melhor das boas intenções... e não foi aquela bronca de pai, foi uma coisa legal... eu pastei, mas me segurei, por causa dele, que me segurou...
... e seus garotos, são transados assim?
Eu transo. Já Roberto não transa, tem o jeito dele, paparica bastante... eu paparico também, mas fico atenta para essas coisas.. quando eles fizerem 18 anos, vou dar um carro? Não!
Vai dar uma guitarra elétrica!
Também não. Não vou forçar barra. Se qui¬serem ser médicos, dentistas, tudo bem, não vou forçar absolutamente nada em relação ao caminho deles...
... por que é que você fuma? Eu, ingenuamente, pensei que sua geração era contra a poluição!
É que minha paciência fica mais tranquila... então, o lance de música, mesmo, profissional, começou com Gil, aquela oportunidade de acompanhar... os baianos, o tempo todo em que eles ficaram no tropicalismo... eu aprendi demais, foi praticamente meu primeiro amor com a música brasileira, através deles... sabe, de repente jogar fora Elvis Presley, Mammas and the Pappas, Ray Charles... o quê, sou mais o Brasil, mesmo! A escola de Gil e Caetano foi legal demais.
E, agora, você tem influência de quem?
De tudo.
Claro. Sempre.
Tudo, todos. S-o-f-r-o-b-a-s-t-a-n-t-e-m-e-n-t-e!
Você é um pouco atriz, sabia?
Volta e meia tem gente dizendo que eu pre¬ciso fazer um filme, uma novela...
... mas você gosta é mesmo de teatro...
... gosto mesmo é de compor. Não acho que eu seja, assim, cantora, não, sabe, porque te¬nho muita crítica em relação a mim mesma... eu me critico tanto que. quando sai alguma crítica a meu respeito, eles ou elas não sabem que eu digo: "ah, não sabem o que é que eu acho!"... estou é meio cansada desse negócio de americano, brasileiro, italiano, não-sei-o-quê... acho que este planeta tem mais é que se juntar... tá muito dividido em tudo...
... e sua linguagem — musical — é universal?
Eu tenho estilo. Acho que devo ter, pelo menos.
E quem é que faz as músicas: você ou o Ro¬berto, seu marido?
Olha... atualmente, o Roberto está puxando mais o cordão. Ele toca piano o dia inteiro e eu de gravador atrás. Ele não pára. Tem uma hora que eu peço pra ele dar um tempinho, dar uma ajeitada, botar uma letra... é legal quando você encontra um parceiro, porque daí vira fonte, parece que não acaba nunca, as músicas vão brotando de dentro da gente... nunca a gente pensou em fazer música dirigida pra isso oupraquilo... Mania de Você, por exemplo, foi uma música feita depois que a gente tinha aca¬bado de transar... tudo é muito verdadeiro... tudo isso passa muito direto pras pessoas.
E Lança-Perfume?
Baseada em tempos de garota. Meu pai não deixava a gente sair em tempo de carnaval. Ele segurava a gente em casa, em compensação, minha mãe fazia as fantasias, levava confete, serpentina e lança-perfúme. Então, nós três — eu e minhas irmãs — fazíamos a maior baderna dentro de casa. E estava tudo bem, desde que a gente não saísse de casa. E o carnaval nosso era •do tipo hoje-vocês-podem-fazer-o-que-quiserem, se não quiserem comer, não comam, se não quiserem escovar os dentes, não esco-vem... e. dentro disso tudo, a presença da lan-ça-perfume^.. o cheiro... lança-perfume é uma coisa inofensiva, nunca- soube de alguém ter ido para um hospital por causa disso, ter dado um tiro em alguém por causa disso...
... em compensação, já vi gente ter tido para¬da cardíaca, por causa de lança-perfume.
Apenas uma parada cardíaca... (RISADA)... tem coisas boas para uns, más para outros. Só que tem o seguinte: essa lança-perfume argentina não está com nada, é meio aromatizadora de ambiente, enjoativa... o le¬gal era a velha Rodouro... ... ué, você conheceu isso?
Quantos...
... idade de Cristo: 33.
E medos. De morrer, por exemplo, como Lennon.
Morrer, todo mundo morre.
De morrer em cena, como naquele filme... ... americano gosta... gosta... Presidente, então, é com eles mesmo.
Brasileiro gosta de quê?
De piada, de humor. Eu gosto desse lado brasileiro de fazer piada com a coisa trágica. Acho uma belíssima saída. O senso de humor brasileiro eu acho fantástico. Fazer piada de uma tragédia é uma grande saída. Todo o meu lado brasileiro é exatamente esse lado debo¬chado. Apesar de que tenho muita coisa cai¬pira, também. Sabe, aquele jeito caipira de dizer as coisa, com sotaquinho deferente, seu delegado nem vai percebe...
... você seria capaz de contar uma historinha cheia de sense-of-humour, porém bem brasileirinha?
Não sei... eu faço é música.
Por uma espécie de necessidade?
Por puro prazer.
Nada tipo missão, assim.
Não. Eu sou muito parecida com todo mundo. Só que as coisas que eu digo em mi¬nhas músicas são coisas que todo mundo sente. Eu nunca escrevi poesias...
... e você não tem medo desse poder...
... não... sinceramente... eu não tenho reli¬gião, não tenho nada... não tenho compromis¬sos... as pessoas que vão aos meus shows sa¬bem o que eu sou, sabem que não estou afir¬mando ou negando nada, estou perguntando junto com eles, estou chorando junto com eles...
... você chora?
De emoção, sim. Quando vejo o pessoal cantando junto, do começo até o fim... eles sabem todas as letras... e as crianças... elas vão ao meu camarim, levam desenhos... eu recebo umas 200 cartas por semana, muitas de genti¬nha de quatro e cinco anos... lá estou eu dese¬nhada, saindo de dentro de um disco voador, de uma estrela, de uma chaminé... aí eu fico meio emocionada com esse lance da criançada, acho um baratão... tem até algumas que me pedem pra levá-las pra casa, tipo quero-ser-sua-filha... de repente você saca que é alguma coisa que sai da gente, nada planejado, e que atinge adolescente, que acha que eu estou go¬zando, que sou sacana, que faço coisas debai-xo-do-pano, atinge trintão às vezes decepcio¬nado com certas coisas, quarentão, cinquentão, e eu estou gostando disso... isso é porque mi¬nhas coisas saem, passam... é uma coisa que não me deixa sozinho e que, tenho certeza, não faz ninguém ficar sozinha também. Eu divido. Meu grande prazer é divertir as pessoas. Diver¬tindo as pessoas a gente recebe uma energia grande, em troca. No momento em que elas estão comigo, eu^estou feliz e elas estão felizes. É uma grande terapia. Tem vezes que eu entro no palco cheia de problemas, mas acendem as luzes, esqueço tudo. Terapia verdadeira.
Nenhum outro tipo de terapia?
Divã, essas coisas?
(ATENÇÃO, ESPECIALISTAS, ELA DESENHA O TEMPO TODO, DURANTE A ENTREVISTA. CALMAMENTE. COMO SE ESTIVESSE FAZENDO TRICÔ, POR EXEMPLO)
Sabe... esse mundo está muito louco. No entanto, trata-se de um planeta muito legal, que estão azarando com ele... até o clima está mudado... eu não gosto de política, realmente, porque é uma coisa que atrapalha demais... o planeta devia ser unificado, sem fronteiras, sem linhas, sem tratados, sem barreiras... o mundo tá todo muito Babel demais, né... e toda revolução parte de dentro da gente, mesmo... a grande chave é você gostar de você mesmo... cuidar disso aqui... (PASSA A MÃO'PELO CORPO)... cuidar disso aqui, cuidar dos cabelos... eu queria muito ainda ver esse planetinha uma coisa só!
E, por acaso, você conhece outro?
(GARGALHADA)
Estou desconfiado que você é um daqueles seres escolhidos que já viram disco voador!
Já.
Na praia.
Paulista vê tudo em cima de arranha-céu.
Mas não era satélite levando sua imagem via Embratel?
Não. Porque quando você transa com isso; transa telepaticamente também. Então, não há dúvida nenhuma.
Como é que você sentiu?
Pelo som. Um ultra-som. E só depois é que você sabe que está sendo dirigida pra fazer determinadas coisas, olhar pra cima, sacar al¬gumas dúvidas...
... Você acredita em mediunidade?
Acredito em tudo.
Daí...
... daí senti uma ultravibração no ouvido... quando você pode sentir, por telepatia, coisas que entram em sua cabeça... nem sempre a gente pode ver a coisa materializada... eu tive a sorte de ver... era bonito, era muita luz... se fosse possível dar uma forma, eu diria que era triangular...
... desceu, passou...
... infelizmente não desceu...
... pra você embarcar...
... ah, mas não tenha a menor dúvida!
Texto de Renato Sérgio
Manchete - 1981
Mania de Rita Lee
Desde Nat King Cole, há mais de 20 anos, ninguém conseguia fazer o Maracanãzinho vibrar tanto. Para ela, a glória não seria completa sem esse show espetacular
DEPOIS de, em 1978, ter amargado um fracasso no Maracanãzinho, ao lado de Gilberto Gil, no show Refestança — o palco quebrou, o público destruiu cadeiras c lâmpadas e os artistas foram obrigados a sair sob escolta — um grande espetáculo no mesmo ginásio tornara-se ponto de honra para Rita Lee. Sua hora chegou neste fim de semana, (mando 34 mil pessoas, em dois dias, chegaram ao delírio, quase histeria. E muita gente ficou do lado de fora, sem ingresso. Depois da estreia, uma fã dizia: "Rita Lee é tão popular quanto Roberto Carlos, só que é mais alegre e comunicativa." E uma senhora, já entrada nos 50 anos, comparava-a "à Marlene dos anos 50". Comparações à parte, o sucesso de Rita Lee é o resultado de um trabalho consciente e cuidadoso dela e de seu marido, o músico Roberto de Carvalho. Os dois haviam assumido um compromisso há tempos: "Voltar ao Maracanãzinho e abafar."
Veja - 1983
Aclamação da rainha
Na maior excursão já realizada por um artista no país, Rita Lee comemora com meio milhão de pessoas a vitória de seu rock e sua alegria
Gol de Rita: E depois do gol a comemoração. Como um time campeão que dá uma volta olímpica no estádio para juntar sua alegria ao delírio da torcida, ela decidiu celebrar a vitória de seu rock cantando e dançando com o público que a transformou em rainha da música brasileira. A frente dc uma caravana de 56 pessoas e seis caminhões, e investida do espírito de um saltimbanco, Rita, aos 35 anos, passou os últimos três meses mostrando o melhor show de sua carreira para 500 000 pessoas de todo o país, em 23 cidades e 37 apresentações. No próximo fim de semana, quando aportar no ginásio do Maracanazinho, no Rio de Janeiro, para um espetáculo no sábado e outro no domingo, encerrará sua volta olímpica a mais alegre, cara e bem-sucedida turnê já realizada por um músico brasileiro.
Nenhum artista no país tocou para um público tão grande em tão pouco tempo. Trata-se de uma proeza. Mais uma da inesgotável roqueira - capaz de, a cada ano, arrebatar o país com suas musicas de romance ou molecagem, seu estilo vivo e irreverente. Na verdade, se se computar todos os artistas nacionais que aderiram, nestes últimos anos, à moda das grandes excursões nacionais, Ney Matogrosso continua a ser o recordista em número de shows numa só turnê: apresentou-se 110 vezes entre junho dc 1981 e março de 1982, também para 500 mil pessoas. E Simone detém ainda o recorde de público no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, quando esgotou sua lotação de 15 000 lugares por nove vezes em março do ano passado.
Ao contrário desses artistas, porém Rita não somou em sua turnê temporadas em locais de porte médio, como o Canecão carioca e o Anhembi, em São Paulo. Levou seu espetáculo apenas aos estádios de futebol e grandes ginásios, numa consagração sem precedentes. Em Belo Horizonte, por exemplo, nada menos de 28 000 pessoas disputaram um dos 26 000 lugares do maior ginásio do país, o Mineirinho. E, em Brasília, a polícia e a grade de ferro colocada à frente do palco não puderam conter o entusiasmo das 18 500 pessoas que lotavam o Estádio Edson Arantes do Nascimento e que invadiram o palco levando consigo o que estivesse pela frente. Foi nisso que Rita inovou: com sua turnê, inaugurou a era em que os artistas se apresentam apenas para grandes platéias, em ginásios lotados.
Trata-se, naturalmente, de uma tarefa para quem pode - não para quem quer. Rita pode. Outro que pode, sem dúvida, é Roberto Carlos - e a partir daí fica difícil apostar em outro astro da música brasileira que seja capaz de lotar estádios e ginásios em lugares tão diferentes como Vitória e Teresina, Goiânia e Aracaju, cidades incluídas na excursão da roqueira. Roberto Carlos tanto pode que vai seguir os passos de Rita. A partir do próximo dia 17, dois dias apenas depois do encerramento da turnê de Rita. Ele estará inaugurando a sua própria. Em Brasília, com a mesma ambição de apresentar-se em amplos espaços e uma estrutura ainda mais impressionante, que inclui um avião para transportar o cantor e sua comitiva. Também o "rei" estará entrando na era das grandes excursões para grandes públicos.
PULO DO GATO – “Tenho certeza que o Brasil ficou um pouco mais alegre, como depois de uma vitória do Corinthians ou do Flamengo”, exultava Rita, na semana passada, refletindo sobre o balanço de sua aventura. Para Rita, o saldo foi ainda maior: os três meses de turnê representaram uma fase fértil em sua criação, em que ela preencheu um caderno com quarenta novas letras de músicas. Assim, já se pode hoje ter uma idéia de como Rita irá alegrar o país na próxima temporada. Suas novas travessuras incluem uma canção caipira, em que diz, com sotaque carregado: “Entre russo e americano/Prefiro gregos e troiano/Pelo menos eles num fala/ Que nóis é boliviano”. Para devolver a homenagem de Caetano Veloso na cançao Sampa, compôs Quarentão. “Gostosão/Magrela/ Meu Dorian Grey /Da sua fonte eu beberei”.
Desde que arrebatou o pais, em 1979, com a canção Mania de Você, Rita influenciou o perfil da cultura brasileira com aquilo que ela mais facilmente absorve e festeja: a alegria. Nesses quatro anos que se seguiram, o público consumiu 3,2 milhões de cópias de seus LPs. Apenas de seu último disco, Rita vendeu 600 000 exemplares - cifra que a coloca atrás somente de Roberto Carlos entre os grandes vendedores de disco do país.
Acima dos números, porém, Rita, com o avanço contínuo e a consistência demonstrados nos últimos anos, dá uma resposta definitiva aos que a classificavam como simples modismo. Muitos de seus ouvintes, e mesmo os que torcem o nariz para ela, agora percebem que Rita deixou de ser apenas a boa companheira de brincadeiras. Rita já é um nome importante na cultura brasileira. E essa posição ela conquistou, não só com a simples alegria, mas com um trabalho sério e original. Rita inovou ao abrasileirar o rock. Ela conferiu, ao ritmo importado, uma matreirice nas letras, um sentido de paródia e de deboche que tem raízes fundas no gosto popular brasileiro.
O que Rita faz hoje é uma espécie de substitutivo das antigas marchinhas de Carnaval. Nesse sentido, ela é muito mais brasileira do que muitos cantores e compositores que, apesar de se dizer ligados às raízes da música do país ou a seus temas tradicionais, ultimamente caíram na mesmice dos sambas-canções abolerados.
Para dar seu pulo do gato, nestes últimos anos, foi fundamental, para Rita, uma associação que a fez crescer e multiplicar seus talentos: o casamento, em 1976, na vida pessoal como profissional, com Roberto de Carvalho. Desde esse ano eles se tornaram, além de marido e mulher, parceiros nas canções. E desde o ano passado a associação se solidificou a ponto de os dois, agora se apresentarem, oficialmente, como uma dupla. "O Roberto é responsável por 50% de cada canção e o nosso trabalho é todo feito a dois, não havia por que continuar só com o meu nome na frente", ela explica. Carioca, 30 anos, filho de pai engenheiro e mãe pianista, e neto do general Zenóbio da Costa - último ministro da Guerra de Getúlio Vargas , Roberto Zenóbio Affonso de Carvalho é realmente fundamental para o sucesso da dupla. Antiga criança prodígio ao piano antes que, para desespero de seus professores do Conservatório Brasileiro de Música, onde adquiriu formação clássica, se apaixonasse pelos Beatles e empunhasse uma guitarra, Roberto é hoje quem faz as músicas da dupla, enquanto Rita faz as letras. Foi em 1976, quando acompanhava Ney Matogrosso num show em São Paulo, que ele conheceu Rita. O casamento veio logo em seguida - e hoje, além de guitarrista, Compositor e arranjador, Roberto revela uma inesperada vocação de empresário, ao controlar, pessoalmente, os negócios do casal.
MOEDAS DE CHOCOLATE - Em nível de realização pessoal, a turnê representou para Rita e Roberto a realização de um antigo sonho. "Nós trabalhamos muito e produzimos muito, precisávamos dar vazão a essas idéias", explica Rita. "Do ponto de vista empresarial, nem foi um bom negócio, e sabíamos que não seria", diz, por sua vez, Roberto. "Vamos lucrar cerca de 80 milhões de cruzeiros e, se fizéssemos shows de produção mais barata e em maior número, poderíamos lucrar 300. Nosso objetivo não era o lucro exagerado: era fazer a turnê bem-feita." Conseguiram. Do momento em que Rita surge no chão do palco, saída de um mirabolante elevador, cantando Saúde, até o final apoteótico, quando interpreta Lança-Perfume com 10000 balões de gás descendo sobre o público, fica evidente que poucos shows de música até hoje combinaram de forma tão perfeita a técnica à emoção.
Rita ocupa o imenso palco durante todo o tempo, corre de um lado para o outro, mexe com o público, beija as crianças, injeta na platéia a expectativa de uma nova surpresa a cada minuto. Roberto funciona como ligação entre ela e os músicos, faz malabarismos com a guitarra, e rege o grupo como um excêntrico maestro. O resultado é um espetáculo completo, moderno - e não apenas um recital de música. Se Gal Costa impressiona em cena pela apuradíssima técnica vocal e Simone pelo carisma como cantora dramática, Rita arrebata a todos numa irresistível euforia. Nesse sentido, a roqueira beneficia-se sobretudo por uma fase de crise da criação na MPB tradicional. Gal Costa sempre será Gal Costa pela sua voz, assim como Elizeth Cardôso sempre é Elizeth e Simone sempre será Simone pelo carisma. Mas todas poderiam crescer se não estivessem limitadas por produções batidas e repertório repetitivo.
Fugindo desse padrão, Rita despertou novas paixões durante os três meses de tumê. Ao passar por Vitória, o escritor Rubem Braga, 70 anos, foi assisti-la no Ginásio Dom Bosco, fez fila nos camarins para cumprimentá-la e dedicou-lhe uma extensa crônica no jornal Correio Braziliense, de Brasflia, em que escreve habitualmente. "Como se moveria benk no Moulin-Rouge ao lado de Jane Avril e Valentin-le-Désossé, desenhada a esfregaços de bastonetes de pastel por Degas ou Toulouse-Lautrec", escreveu sobre ela, em tom emocionado, o velho cronista. Além de colecionar paixões, porém, Rita também reavivou velhos desafetos. No show de Brasília, na canção Vote em Mim, não se limitou a fazer o discurso habitual (Vote em mim/Não no Delfim/O gordinho sinistro) que encerra enquanto joga moedas de chocolate para o público. Investiu contra a chefe do Serviço de Censura Federal, Solange Hernandes, chamando-a pelo nome e pedindo a ela para "não atrapalhar a vida dos artistas". Rita referiu-se especificamente à sua canção Cor-de-rosa Choque, tema do programa TV Mulher da Rede Globo, que durante anos teve amputada de sua letra a frase “Mulher é bicho esquisito/Todo mês sangra”. A roqueira perguntou à censora: "Dona Solange, a senhora não conhece Modess?"
PRATOS DE ESPAGUETE - O triunfo de Rita Lee e Roberto de Carvalho e o início da turnê de Roberto Carlos consagram definitivamente, no Brasil, um tipo de excursão antes apenas empreendida pelos grandes astros do rock americano ou inglês. Mais especificamente, tanto Rita como Roberto Carlos se dizem inspirados na excursão gigante realizada pelos Rolling Stones, em 1981, pelas grandes cidades americanas. Talvez essa seja apenas uma etapa. Talvez seja apenas uma preparação, um esquentamento de motores, para um dia, quem sabe, artistas nacionais da estatura de Rita ou Roberto Carlos igualarem o recorde histórico de Frank Sinatra ao encher o estádio do Maracanã, em janeiro de 1980. Em todo caso, as grandes excursões exigem investimento e muito esforço. São turnês em que o próprio artista carrega uma completa infraestrutura para o palco até os guarda-costas. Para montar o seu espetáculo em grande estilo, Rita Lee e Roberto de Carvalho convocaram o empresário Leonardo Netto, 32 anos, sócio do jornalista Nélson Motta em empreitadas como a discoteca Noites Cariocas, no Rio de Janeiro, e ex-vice-presidente da gravadora WEA. "Nossa idéia foi montar um espetáculo em que nenhum efeito especial tivesse mais impacto que a presença de Rita e Roberto em cena", explica Leonardo. Assim, construiu-se um equipamento sob medida para essas necessidades, com 30000 watts de potência sonora, 100 refletores, quatro canhões de luz e um imenso palco munido de duas passarelas. Para que suas guitarras estejam sempre no ponto, sem aborrecer o público com o som da afinação. Roberto mantém um afinador eletrônico à sua disposição atrás do palco, manejado por um técnico. Roberto tem também um telefone camuflado no palco, ligado diretamente às mesas de som e luz, com as quais se comunica para dar eventuais instruções.
Para montar essa formidável infra-estrutura, Rita e Roberto gastaram 200 milhões de cruzeiros, o maior investimento já feito num show de música no Brasil. Metade dessa verba saiu do próprio bolso do casal, e o restante foi fornecido pela etiqueta de roupas Lee, que assim ganhou o direito de associar seu nome aos espetáculos. "O patrocínio foi um sucesso para a Lee, as vendas aumentaram à medida em que a caravana de Rita e Roberto avançava", exulta Milton Bernard, gerente de promoções da agência de publicidade MPM, responsável pela negociação da verba.
Para sustentar o pique de ensaios e viagens quase diárias e seus malabarismos em cena, Rita e Roberto desenvolveram uma receita de resistência. Lendo uma entrevista com Mick Jagger, o líder dos Rolling Stones, descobriram que, para estar em sua melhor forma na hora de entrar no palco, ele habituou-se a comer um prato de macarrão três horas antes do início. Adotaram a fórmula e, em todos os shows da turnê, podiam ser vistos pelos camarins empunhando fartos pratos de espaguete. "Os carboidratos da massa e as calorias dão uma sensação estimulante a quem se exercita", explica o médico Carlos Teixeira, 30 anos, contratado para acompanhar Rita e Roberto durante a turnê, com uma inseparável ambulância na porta. Teixeira é ainda encarregado de aplicar uma massagem relaxante no casal meia hora antes da entrada em cena.
TÚNEL DO TEMPO - Macarrão, porém, só antes dos shows. No dia-a-dia, Rita e Roberto preferem alimentos leves e naturais, como água-de-coco, mel e uma mistura de cereais que importam dos Estados Unidos. Longe das luzes do palco, Rita e Roberto levam vida de gente comum. Pouco saem, de seu confortável e gigantesco apartamento duplex de 1200 metros quadrados, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Seu dia-a-dia é passado com os filhos Roberto, de 6 anos, João, de 4, e Antônio, de 1 ano e meio -, entre montanhas de jogos eletrônicos, fitas de vídeo a brincadeira predileta da família, que consiste em se andar de luzes apagadas no pequeno elevador que liga os dois andares do apartamento.
O casal não bebe álcool e não consome drogas, ainda que Rita admita já as ter consumido há oito anos. Curiosamente, Rita e Roberto parecem alimentar sua relação na mesma fonte que costuma desandar tantos casamentos: a convivência diária e ininterrrupta. Eles moram, trabalham e viajam juntos há sete anos. "A gente só briga quando está compondo: lança chispas, fica violento, mas acaba cedendo a um final feliz", conta Roberto. "Um casal que convive 24 horas por dia, 360 dias por ano, tem que dar asas à imaginação no relacionamento", intervém Rita. "Nós, por exemplo, procuramos fazer amor em todas as partes da casa. Quando as pessoas não variam o cotidiano entre si, buscam variações fora do casamento."
A boa parceria de Rita e Roberto em casa refletiu-se num trabalho em que eles fundiram a musicalidade de um com a inspiração do outro, ou na perfeita alquimia entre humor e romantismo que atingiu sua perfeição em Lança-Perfume, de 1980, e continua produzindo frutos. "O Roberto tem o jeito carioca, flui música. Eu sou a paulista objetiva, gaiata e sem swing", resume Rita. "Essa dualidade é muito importante na nossa musica".
Essa perfeita associação entre Rita e Roberto começa a despertar também a atenção do mundo Há dois anos, Roberto recebeu um convite do empresário americano Steven Machat - descobridor de atrações como o grupo Genesis para editar Lança-Perfume em versão americana. Fechou negócio quase por acaso e, seis meses depois, o compacto figurava em 25. lugar nas paradas de sucessos de "música negra" da revista Billboard, a bíblia do mercado fonográfico americano. Entusiasmado, Machat voltou à carga e intermediou um contrato entre o casal e a gravadora EMI America para a gravação de discos em espanhol. O primeiro deles, Baila Comigo, lançado no México há um mês, vendeu até agora 80 000 cópias, um número significativo num mercado semelhante ao brasileiro. E, para o final deste ano, os planos são ainda mais ambiciosos: Machat pretende gravar com Roberto e Rita um LP totalmente em Inglês, para concorrer no mercado americano "Eles são ídolos naturais, tenho certeza que, em pouco tempo, podem conquistar entre os americanos um público pequeno mas entusiasmado", garante o empresário.
A perspectiva, contudo, não chega a impressionar Rita Lee, que evita programar sua vida a um prazo tão longo. Exatamente porque não é de seu feitio traçar estratégias ou guiar-se por elas, é a única entre as artistas de sucesso do país, ao lado de Caetano Veloso, a manter e deixar exposta uma chama de inquietação. Em 1981, quando o país ainda dançava hipnotizado ao som de Lança-Perfume, consumindo 700 000 cópias desse LP, lançou um disco difícil, Saúde, com propostas vanguardistas como a canção Atlântida, que a fez descer ao patamar das 400 000 cópias vendidas. Poderia ter repetido a fórmula bem-sucedida de 1980, mas não teria possibilitado o surgimento, dois anos depois, de toda uma nova geração de seus filhos artísticos do grupo Blitz à cantora Neusinha Brizola. Acima de tudo, não teria mantido um país atento à sua próxima surpresa, pronto a compartilhar de sua alegria irresistível.
O senhor Carvalho, empresário, e seus negócios
No guarda-roupa de Roberto de Carvalho, os coloridos uniformes de show convivem lado a lado com uma coleção de elegantes temos e grava tas. Aparentemente, estes são trajes de pouca utilidade para um agitado astro do rock - mas só aparentemente. Longe dos palcos e dos estádios de gravação, na verdade, Roberto não é apenas o marido e parceiro de Rita Lee: é também um executivo compenetrado e de agenda repleta que comanda dez funcionários entre intrincados mapas, gráficos e extratos de computador.
Ao contrário da maioria dos artistas brasileiros de sucesso, Roberto cuida pessoalmente de todos os negócios da dupla - uma complicada engrenagem que envolve contratos artísticos, cessões de direitos autorais, negociações para a utilização de imagem, vendas de shows e uma infindável série de outros itens que compõem a vida profissional de um artista de sucesso. Em seu quartel-general, a Trampo Produções Artísticas - um conjunto de três salas no alto de um arranha-céu na Avenida Paulista, em São Paulo -, Roberto se envolve em longas discussões com advogados, empresários ou seus próprios funcionários. Ali quem brilha não é o guitarrista, mas o chefe com fama de severo, atento e incansável. "Acho o mundo dos negócios excitante", diz ele.
Como empresário, Roberto de Carvalho e duro e exigente. Com as calças Lee, uma das patrocinadoras do atual show, ele fechou um contrato que, em troca de 100 milhões de cruzeiros, dá direito à empresa de exibir sua marca em faixas espalhadas durante o espetáculo e em folhetos promocionais. Nem ele nem Rita, porém, usam calças Lee em suas apresentações. "Para usar a calça", diz Roberto, "eu pediria mais 200 milhões."
Esse mesmo sentido de seriedade nos negócios transpareceu quando da renovação do contrato da dupla com sua gravadora, a Som Livre, logo após o estrondoso sucesso do LP Lança Perfume. Roberto envolveu-se em intermináveis semanas de conversações, e ao final tinha arrancado da gravadora uma concessão inédita no país: Rita e Roberto são hoje os únicos artistas nacionais que recebem royalties de 15% sobre cada disco vendido - quando o normal é de 7%, para iniciantes, e :10% para os consagrados. Esse item no contrato foi o que garantiu a permanência do casal na Som Livre, num momento em que outra gravadora - a CBS - acenava com uma oferta milionária.
Roberto de Carvalho não vê incompatibilidade entre suas facetas de músico e de homem de negócios. "Para o profissional, trata-se de dois lados complementares da mesma moeda", afirma. De toda forma, ele é frequentemente obrigado a malabarismos para coordenar as duas funções. Há três meses, por exemplo, tinha uma reunião inadiável com os executivos de sua gravadora no exterior, a EMI America, com sede em Nova York. Tomou um avião para Nova York, fechou contrato e embarcou de volta no mesmo dia, a tempo de retomar os ensaios para a turnê que estava prestes a começar.
Em outras ocasiões, Roberto é obrigado a tomar, rapidamente, decisões que deixariam em dúvida qualquer empresário experiente. Foi assim que, há um mês, recusou uma milionária proposta de dois empresários para dividir um show com Julio Iglesias, no estádio do Maracanã. "A soma oferecida era um assombro, mas pensei na hora que a associação de imagens não seria boa nem para nós e nem para Iglesias", avalia ele. Apesar de frustrados em decisões como essa, os empresários com quem Roberto costuma lidar acham mais fácil conversar com ele do que com outros músicos, exatamente por causa de sua intimidade com o mundo dos negócios. E essa a opinião, por exemplo, de João Araújo, presidente da Som Livre. "É sempre penoso lidar com a figura do marido da cantora", argumenta Araújo. "Mas, no caso de Roberto, é fácil: ele exige muito, mas sempre vê o outro lado da mesa."
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